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Também de esquerda

Espaço destinado a reflexões (geralmente) inspiradas na actualidade e na Literatura.

Também de esquerda

Espaço destinado a reflexões (geralmente) inspiradas na actualidade e na Literatura.

História trágica de um átomo letrado

Diz-se que, certo dia, um átomo de hidrogénio no viço da juventude encontrou uma molécula gémea por quem imediatamente sentiu uma irresistível atracção. Como logo percebeu, não ia ser fácil unir-se-lhe, uma vez que já lá havia um sério obstáculo à sua aproximação: o lugar que ele desejava ocupar já estava ocupado por um seu semelhante, que se antecipara. Havia que o afastar, mas isso significava, pura e simplesmente, destruir a molécula, coisa que ele não queria, por razões morais, mas também por respeito por certas leis que nada têm a ver com a moral.

Inconformado e ciente de que havia uma química iniludível entre eles, o nosso átomo, embora a contragosto, optou por se aproximar, formando uma espécie de ménage à trois, o que não agradou nada à molécula, igualmente respeitosa, não dos bons costumes, mas das tais leis alheias à moral.

- Se queres juntar-te a mim, arranja, primeiro, um par. Nós só funcionamos dois a dois – barafustou ela, exibindo dois agressivos electrões.

Muito descontente com um celibato forçado, o átomo aproximou-se tanto da molécula que provocou uma subida da temperatura até níveis indescritíveis. Os corações deles, mais conhecidos pelo nome de núcleos, acabaram embatendo uns nos outros e fundindo-se. Desta fusão resultou uma grade libertação de energia, e quando deram por eles a surpresa foi enorme: já não eram hidrogénio; tinham virado hélio.

A história tem um fim triste porque a Natureza é de uma atroz insensibilidade. Contudo, bem vistas as coisas, nem é assim tão triste. É que a energia libertada, chamada energia de fusão, é a energia do Sol e do Universo. Além disso, o nosso átomo infeliz sublimou a sua frustração por via literária, escrevendo as suas memórias. Ele tinha lido o Eça, e lembrou-se das Memórias de um Átomo, que o João da Ega nunca chegou a escrever.

Vejam lá do que os átomos são capazes!

Seguindo o exemplo de Fausto (da série “Declaração de amor(es)”, que também podia chamar-se “Desvarios da senescência”)

 Sabemos que o sábio e velho Fausto, insatisfeito com a vida que leva, faz um pacto com Mefistófeles, vende a alma ao Diabo, a fim de rejuvenescer. Mefistófeles exige-lhe um papel assinado “com um pingo de sangue”.

Recuperada a juventude, Fausto apaixona-se por Margarida, que seduz, graças ao apoio de Mefistófeles, que Fausto prevenira previamente: «Se inda hoje / Em meus braços não dorme a linda moça / À meia-noite estamos separados!».

Vítima da censura social, Margarida é encarcerada. Fausto, contrito, tenta salvá-la, mas ela morre, e é um novo Fausto, resgatado pelo amor, que aperfeiçoa o seu ser, na segunda parte da tragédia, resistindo sempre às tentações de Mefistófeles, que vê gorado o seu negócio.

Também eu, pelas mesmíssimas razões de Fausto, me declaro disposto a reeditar tal pacto. O distraído Mefistófeles ainda não deu por mim, porque os tempos são outros, mas tenho a esperança de que este post lhe desperte a curiosidade.

Então, é assim: não é por uma Margarida que estou apaixonado, nem tampouco pretendo dormir com quem quer que seja. Pelo contrário, quero estar bem acordado. Quem eu pretendo conquistar é a C. Só que ela é um osso duro de roer – passe embora a analogia tão inconveniente e até injuriosa e degradante, devida à minha notória incapacidade para criar metáforas poéticas. Não será com falinhas mansas, nem com flores ou vilancetes que ela me cairá nos braços. Vai ser necessária muita persistência. Anos de galanteio. E, reparem, ela nem é tão jovem quanto a Margarida do Fausto; só que tem um poder invejável de se renovar. Nasceu há muito (não sou mais exacto porque a idade das senhoras é assunto tabu) e trabalha arduamente nos mais diversos domínios e materiais, incluindo cosméticos, mas não é a estes que ela deve o seu encanto persistente. Não. Ela encanta porque é extremamente curiosa e metódica em tudo o que faz. Além disso, é de uma honestidade à prova de bala: sempre que se engana, reconhece o erro, corrige-o, e não manifesta a mais ínfima consternação.

Chegado aqui, resta-me aguardar ansiosamente a visita de Mefistófeles. O tempo escasseia. Preciso de voltar a ter vinte anos, vinte, e, já agora, disponibilidade para estar junto da Carolina sem o constrangimento de um trabalho absorvente. Quanto à alma, que se dane!

(Quem é que pensou que a C. era a Ciência?...)

ÚLTIMAS VONTADES

Que o meu caixão vá sobre um burro

Ajaezado à andaluza…

A um morto nada se recusa,

E eu quero por força ir de burro!

Mário de Sá-Carneiro                    

 

Tendo a acreditar na minha imortalidade, a julgar pela evidência de ter sobrevivido a 75 anos de vida, mas receio ter um dia de me render a outra evidência – a de ter deixado de ser, ainda que seja improvável evidenciá-lo. Nesse dia, único e solene, como convém, para além de uma lágrima furtiva no rosto de alguém, providencie-se o conjunto de medidas que passo a enunciar com as respectivas motivações:

1.º, Que me seja proporcionado um banho quente, como antídoto para o rigor mortis. Com Dove men extra fresh. Cadáver, sim, mas relaxado e asseado.

2.º, Que me vistam de fato e gravata, com nó windsor, adquiridos no comércio local. Ao menos uma vez na morte, quero ir decente e rasteirar a grande distribuição.

3.º, Que me plantem um charuto na boca. Mas havana, por respeito pelas minhas convicções tabágicas.

4.º, Que me tragam um padre ortodoxo grego tendo em vista a oração fúnebre. Para o latim de Igreja bastou estar vivo.

5.º, Que se incumba um deputado de convicções liberais de fazer o elogio fúnebre do mercado de valores.

6.º, Que se recolham as cinzas num cinzeiro. Resistente à chuva, em caso de intempérie; por tempo seco, basta uma urna. De voto. À esquerda.

7.º, Que se entoe uma marcha fúnebre, mas não a de Chopin, que me dá logo vontade de rir. Ou um Prelúdio de Bach. Ou o Let it be, dos Beatles. Mas, sobretudo, que não se esqueça a Internacional. “Não há machado que corte a raiz ao pensamento” nem há fogo que consuma as ideias que acalento.

8.º, Nada de RIP. Que se ponha na campa: VIP.

Agradecido.

Declaração de amor(es)

Pois é. Estou apaixonado pela F., pela Q., pela C., e pela L. Com todas elas, mantenho uma relação saudável e, no mínimo, gratificante, o que não significa que o meu interesse seja permanente e que mostre idêntica deferência para com todas. Também é verdade que nem todas correspondem da mesma maneira aos meus avanços. De facto, sinto que, com as duas primeiras, mistério e segredos se vão desvanecendo à medida que nos conhecemos melhor, mas nem por isso o nosso relacionamento entra em domínios mais intricados. Nestas coisas do amor, não é fácil separar águas e, mais ainda do que noutros domínios, diz a experiência que não somos bons juízes em causa própria. Por isso, confesso que tenho culpas no cartório, mas elas também não estarão isentas de todo: põem-me vezes sem conta em situações em que me julgo um perfeito idiota, o que não me agrada mesmo nada. Já com a C., só a muito custo me é dado aceder ao que lhe vai lá por dentro, havendo pormenores que julgo inalcançáveis, e quando digo pormenores sei que o termo é impróprio, pois são factos de enorme importância. De tal maneira que até posso afirmar que estamos a anos-luz de distância um do outro, somos de galáxias diferentes. É com mágoa que o reconheço, mas sinto-me na obrigação de o fazer, por uma questão de honestidade. O que é comum às três é que têm uma ligação muito forte com o mundo, sentem-se parte integrante de tudo e de todos; por assim dizer, elas são o mundo ou, pelo menos, compreendem-no bem melhor do que eu. Já com a L. a minha relação é de muito maior cumplicidade. De facto, conhecemo-nos há muito mais tempo e rapidamente nos tornámos íntimos. Ela está sempre perto de mim; deito-me e levanto-me com ela. Por vezes, ficamos quedos, calados, a mirar-nos no fundo dos olhos. Percebemos que a vida de um não teria sentido sem a vida e a cumplicidade do outro. Também nem sempre o entendimento é pacífico; uma vez por outra, divergimos, mas a dissensão é banal e não deixa rasto. Há dias em que passamos mais tempo juntos – quando eu não tenho afazeres, já que ela está sempre disponível. O que a distingue das outras três é essencialmente isto: é muito sonhadora e não se rala nada se confundir aquilo que todos nós vemos com aquilo que ela própria vê e que muitas vezes não coincide. Digamos que tem uma cosmovisão multifacetada, que é muito dada ao sonho, que, ao retrato estático, prefere o croqui e o devaneio. Pessoalmente, revejo-me em todas elas, apesar das diferenças já assinaladas e que, no caso da C., só não é desesperante porque eu tenho uma infinita paciência. A minha intimidade com a L. tem certamente que ver com a propensão que também tenho para a divagação, como, aliás, se nota. Enfim, para não me alongar muito mais, reconheço que a minha paixão serôdia pela Física, pela Química e pela Cosmologia, apesar de sincera, será pouco menos do que infértil. Quanto à Literatura, essa, temporã, espero que dure, enquanto eu durar. Eu. Porque (ela que me perdoe!), promíscua como é, vai com todos os que a querem e promete não morrer.

Golpe de Sorte / Coup de Chance (uma coisa assim a modos de crítica)

Coup de Chance, 2023 (2).jpg

Fã de Woody Allen, lá fui ver o Golpe de Sorte. Abstenho-me de considerações sobre planos, sonoplastia e por aí adiante, que não sou crítico de cinema. Mas abalanço-me a dizer umas coisas sobre a narrativa.

A história é banal, até certo ponto: uma jovem e bela mulher, Fanny, casada com um homem cuja profissão consiste em “tornar os ricos mais ricos” – Jean Fournier – cruza-se na rua, por acaso, com um antigo colega do Liceu, agora escritor a tempo inteiro –  Alain. Felizes por se reencontrarem, não tardam a declarar uma atracção recíproca e irrefreável, e não se ficam pelas palavras. Jean, estranhando mudanças comportamentais de Fanny, contrata um detective, que rapidamente deslinda a marosca. Incapaz de digerir a humilhação e de renunciar à mulher, que ama apaixonadamente, Jean procede a novo contrato, desta vez com assassinos a soldo, que se encarregam de fazer desaparecer, sem deixar rasto, o maldito concorrente. Destroçada, Fanny atribui o desaparecimento a desistência do amante e restabelece a conjugalidade temporariamente subvertida. À mãe, que interpretara lucidamente os sinais da infidelidade, confessa o relacionamento extraconjugal.

Num convívio festivo com amigos, alguém fala do desaparecimento misterioso e nunca esclarecido do sócio de Jean, anos antes, o que terá sido determinante para a prosperidade financeira deste último. Na altura do desaparecimento, aventara-se a hipótese de suicídio ou de homicídio. Atenta a estes pormenores, a mãe de Fanny intui a possibilidade de este novo desaparecimento ter uma causa não exactamente coincidente com a que Fanny imaginara e faz uma busca na secretária do genro, onde encontra o cartão-de-visita do detective. Determinada a não deixar morrer o assunto, faz-se passar por esposa traída e aconselhada pelo Senhor Jean Fournier a recorrer aos preciosos serviços do detective. Este reconhece tê-los prestado.

A princípio, descrente, Fanny acaba por encontrar uma prova de que, realmente, Alain não a tinha abandonado, o que corrobora a tese da mãe, segundo a qual Jean estaria por detrás dos dois desaparecimentos misteriosos.

Tendo surpreendido uma conversa entre mãe e filha, Jean Fournier, descoberto, decide reeditar, agora com a sogra, a sentença lavrada em relação a Alain, mas algo corre mal e, numa caçada, em vez da sogra, é ele mesmo, qual veado, quem é mortalmente atingido.

Contada a história, cujo desenrolar temporal poderá ter sofrido um ou outro desencontro, vamos à crítica da narrativa – neste caso, fílmica, mas narrativa à mesma.

Saí da sala com o desagradável sentimento de Allen não ter sido tão bom quanto eu esperava. E porquê? Foi a pergunta que me fiz, ao sair, e demorei algum tempo a pôr as ideias em ordem, revendo a acção do filme na cabeça. Talvez seja ingenuidade congénita, mas a construção da personagem do marido pareceu-me algo inverosímil. É que todo o comportamento de Jean Fournier com a mulher, a sogra e os amigos indicia uma personalidade equilibrada e sentimentos nos antípodas da psicopatia. É verdade que a sua actividade profissional não me inspira nem confiança nem simpatia, mas, que diabo!, daí até assimilá-la ao homicídio puro e simples vai alguma distância. A discrepância incomoda-me e quase me atreveria a dizer que Allen, na escrita do guião, se apercebeu de alguma inverosimilhança, o que o terá levado a intercalar uma ou outra referência ao desaparecimento misterioso do sócio, antes do rapto e assassinato de Alain. Até o deslize sentimental de Fanny me pareceu um pouco forçado, tendo em conta o seu anterior e atribulado conúbio. A relação conjugal em curso tinha todo o ar de compensar amplamente o infortúnio da precedente e Fanny não é desenhada com a ligeireza de uma aventureira. Em suma, nem ela nem o marido me parecem personagens inteiramente condizentes com a fábula. Tratando-se dos protagonistas da história, é caso para dizer que algo correu mal ao realizador. Em rigor, ao coincidente guionista.

 

O maravilhoso na literatura e na vida (Exercício de narcisismo autobiográfico)

Eles não sabem que o sonho

É uma constante da vida

Tão concreta e definida

Como outra coisa qualquer.

António Gedeão / Rómulo de Carvalho

 

Fiz a escolaridade primária, actual 1.º ciclo, numa escola da Igreja Evangélica Metodista do Mirante, no Porto. Não sendo praticantes de nenhuma religião, os meus pais acreditariam, certamente, na existência de um Criador e da respectiva coorte de anjos e santos. Além disso, havia, de facto, do meu lado paterno, uma relação antiga, mas intermitente, com o protestantismo, e, opositor (discreto, como se impunha) ao regime fascista, o meu pai sempre me mostrou antipatia para com a Igreja Católica, as suas liturgias e os seus ministros – tudo isso muito conotado com o regime. Ainda hoje conservo, contudo, uma memória contraditória da minha avó paterna, a Avó Júlia, que, talvez pelas 6 horas da tarde, sentada numa poltrona da sala do apartamento onde vivia então com a filha viúva, minha Tia Isabel, numa urbanização acabada de construir, em Pereiró, ouvia religiosamente (o advérbio não podia ser mais adequado) a missa transmitida pela rádio. Não havendo transmissão radiofónica do culto evangélico, a missa católica supria perfeitamente tal falta, e, afinal, uns e outros se reclamavam da mesma divindade, para além de a rádio não consentir a visualização de imagens susceptíveis de ofender o ascetismo iconoclasta das Igrejas reformadas.

Numa sala onde cabiam quatro (ou só três?) filas de carteiras alinhadas a partir do estrado onde ficava a secretária da saudosa D. Sofia, conviviam pacificamente as quatro classes de então, uma em cada fila (talvez com excepção das 1.ª e 2.ª classes).

No primeiro dia de aulas, levado pelo meu pai, fiquei maravilhado com aquele mini-universo onde havia um ábaco, um armário com pesos e medidas, um enorme quadro de lousa com coisas escritas, tinteiros incrustados nas carteiras, mapas enormes de Portugal d’Aquém e d’Além-Mar, as fotografias de dois senhores que deviam ser muito importantes e que, mais tarde, o meu pai me disse serem de um tal Salazar e de um Craveiro Lopes – com uma cruz entre ambos. Ia ter ali muitos amigos com quem brincar, e fiquei logo sentado ao lado do Coimbra, cujo nome, mais tarde, eu grafaria Quimbra, o que me valeu a mofa dos outros e branda repreensão da D. Sofia. Mas, no segundo dia, desatei num choro irreprimível, quando me vi, de novo, entregue àquela chusma de gaiatada que não conhecia de lado nenhum e compreendi que, dali em diante, a minha vida passaria a ser aquela, a maior parte do tempo.

Uma vez por semana, tínhamos a aula dominical, com um adulto que nos lia e comentava versículos da Bíblia, no rés-do-chão do templo (o culto era celebrado no andar superior). Não era pastor; seria algum fiel mais conhecedor do texto sagrado e com presumível aptidão pedagógica. Talvez me venha daí o gosto pela hermenêutica. À 2.ª feira, era o Reverendo Irineu quem vinha pôr-nos a orar e pronunciava uma breve homilia edificante, já depois de a D. Sofia nos ter passado em revista as unhas e perguntado se, todos, tínhamos tomado o banho semanal – prova insofismável de que, nos anos cinquenta do século XX, Portugal deixara definitivamente a Idade Média para trás. Só bastante mais tarde, já rapazote, frequentei ocasionalmente o culto dominical, onde pontificava o Reverendo Aspey, britânico de porte garboso a que os fiéis chamavam Reverendo Aspro, o que o levou, certa vez, a brincar em pleno culto: «Chamam-me Reverendo Aspro porque Aspro faz bem! (Para quem não conhece, Aspro era uma aspirina muito publicitada naquela altura).

Voltando à aula dominical, versão evangélica da catequese católica, ou da madraça islâmica (alguém me ensina o equivalente hebraico?), aquelas histórias bíblicas que, mais tarde, se me afiguraram estapafúrdias constituíam para todos nós – crianças de 7, 8, 9, 10 anos – contos maravilhosos de que nos sentíamos quase actores ou, pelo menos, espectadores atentos e desejosos de participar na acção. Por muito que a proeza da Criação em sete dias, a desobediência de Adão e Eva no Éden, o dilúvio universal e a arca de Noé, a Torre de Babel e tudo o mais nos fosse apresentado como algo de verdadeiro, tão verdadeiro como o que aprendíamos sobre a História de Portugal – dinastias, reis e respectivo cognomes, batalhas bravuras, descobrimentos, defenestrações e cercos – o que nos enchia o espírito infantil era o maravilhoso de tudo aquilo. E esse maravilhoso, por muito que se esforçassem por nos fazer crer algo diferente, não era nada mais do que o maravilhoso igualmente presente nos contos infantis que todos conhecíamos e que ainda hoje não só fazem as delícias das crianças como constituem um poderoso estímulo ao seu desenvolvimento harmonioso. Eva, Inês de Castro e a Gata Borralheira não passavam de metamorfoses de um mesmo ser mítico, intangível e, no entanto, próximo de nós, para que mais tarde, muito mais tarde, o pudéssemos ter sempre na nossa imaginação e com isso nos encantarmos.

Já no Liceu, foi na literatura que o maravilhoso emergiu com pujança, em obras tão diversas quanto as Barcas vicentinas, a Epopeia de Camões[1] as Lendas de Herculano, as narrativas de Garrett, de Eça, etc., etc., etc. Mas, pela mesma altura e durante os anos seguintes, foram muitos outros, nacionais e estrangeiros, que puseram na previsível rota do quotidiano o atalho do desconhecido, da descoberta, do encantamento. E isto não só na literatura propriamente dita, mas igualmente nas obras de divulgação científica.

Pelos meus dezasseis anos, veio ao Porto um pregador evangélico chamado Samuel Doctorian. Tinha fama de ser um grande orador, pelo que lhe destinaram um salão de razoável tamanho existente na ACM (Associação Cristã da Mocidade, na Rua José Falcão). O salão estava a abarrotar, e a pregação era intervalada, a curtos espaços, pela intervenção duma intérprete que vertia em português corrente um discurso inflamado em inglês paroquial. Para além destas duas vozes, apenas um silêncio vagamente suspirante de homens e mulheres prestes a entrar em transe a qualquer momento, tantos e tão vibrantes eram os paroxismos do pregador. Até o meu Primo Luís e mais um ou outro amigo, ali, ao meu lado, exibiam um ar de beatífica comunhão com o divino, o que logo induziu no meu espírito jovem uma dolorosa dúvida e um esforço tenaz para os acompanhar: «Meu Deus, por que razão não sinto a Tua presença em mim? Por que motivo, quando todos, aqui, vibram com a palavra do pregador, eu não me sinto tocado, nem consigo compreender que energia é aquela que os move e que não sinto percorrer-me?» Na falta de uma resposta, ainda cismei algum tempo na hipótese de ter um enigmático defeito causador de tão angustiante incapacidade. O sentimento de culpa durou pouco, até porque, pela mesma altura, todos tínhamos, ou aspirávamos a ter, outras divindades – essas, literalmente palpáveis – mas fiquei a saber o que era a fé e o que era não tê-la. Eu não a tinha. Todos os outros, aparentemente, a tinham. Ora a fé é outra das dimensões do maravilhoso. Que maior conforto para toda aquela gente do que, por via de um sermão enfático, emotivo e tonitruante, ver reforçada a sua crença inabalável na existência do Pai do Céu, na vida eterna e por aí adiante?

O maravilhoso é o desconhecido, é o fantástico, é o mito[2], seja ele de que natureza for, e o mito transporta-nos invariavelmente para um espaço distinto daquele que nos é mais familiar, um espaço sagrado, e um tempo cíclico, renovável e revisitável. Este espaço e este tempo afastam-nos por minutos ou horas das dimensões que nos são mais familiares e que estão associadas às tarefas repetitivas do quotidiano. Daí o próprio acto da leitura, que nos “transporta” para um espaço e um tempo diferentes, poder ser uma forma degradada de mitologia (Eliade). Por mais realistas e materialistas (acepção filosófica) que sejamos, o maravilhoso acomete-nos, concede-nos a trégua de que carecemos para prosseguir na tarefa de empurrar a rocha encosta acima. Não que ela resvale de imediato, como a de Sísifo, herói trágico porque tem consciência do absurdo da sua situação (Camus). A nossa rocha do quotidiano vai galgando a vertente até cada vez mais alto, mas é penoso o nosso esforço, e é ao maravilhoso que vamos buscar a força de que carecemos para prosseguir.

Daí também o maravilhoso do encontro. Do encontro com alguém, um amigo ou uma amiga, que nos cinge num abraço e como que nos duplica. Esse alguém transporta-nos para uma dimensão que não será uma das onze da teoria das cordas, mas que está fora do espaço-tempo. É quando o mito se funde na realidade e a sombra falece na luz.

Daí, enfim, a vitalidade das artes. Daí o poder da religião. E o da utopia. E o da amizade. E o do amor.

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[1] Quando se fala de maravilhoso n’Os Lusíadas, é costume distinguir-se o maravilhoso pagão do maravilhoso cristão e é ainda possível falar-se de maravilhoso científico e, talvez, de outros tipos. O assunto é amplamente tratado por Jacinto do Prado Coelho num artigo do Dicionário de Literatura. O meu foco é evidenciar a importância de qualquer tipo de maravilhoso na vida de todos nós.

[2] A utopia também, mas a utopia tem, muitas vezes, pernas para andar, isto é, acaba por se concretizar. Ao concretizar-se, perde o estatuto de maravilhoso, ainda que possa ser maravilhosa.

O beijo e outras merdas (se me é permitido)

O beijo e outras merdas (se me é permitido)

Tendo por hábito só postar coisas sobre assuntos tipo “aquela” guerra e outros que nem ao menino Jesus interessam (para mais, com um desesperante apego à gramática normativa, acho eu!) – resolvi mandar um bitaite que, tendo algo a ver com a Jenni e o Rubiales, tem sobretudo a ver com a faena.

Quanto ao beijo, já tudo foi dito. Os vídeos ilustram tudo e mais alguma coisa. Só falta convocar o Conselho de Segurança da ONU e decretar que todo e qualquer toque entre nacionais de membros das United Nations cujo consentimento não seja atestado por certidão notarial implicará sanções contra o Estado em causa.

Encerrada a magna questão do beijo (as televisões já o recuperarão), vamos agora a duas outras: a da gestualidade genital do Senhor Rubiales e a da faena.

Quanto à primeira, o que parece ter incomodado alguns comentadores foi o facto de o dito Senhor ter garbosamente empunhado os atributos mais óbvios da sua masculinidade a escassa distância da Rainha Letícia – crime (de lesa-majestade), disse ela (ou disseram eles). Chato, como sabe que sou quem me conhece, foi aí que eu me senti vítima de agressão sexual. Coitado, que sensível que ele é! – dirão alguns dos meus leitores mais lúcidos e acostumados à feição patriarcal da nossa sociedade. Pois é verdade: reconheço que estes gestos demonstrativos dos instintos mais básicos e naturais de qualquer espécie animal me incomodam. Não é o sexo que me incomoda, por amor de Deus! Estou-me nas tintas! O que me incomoda é a exibição daquilo que está muito bem situado lá no sítio que Deus entendeu ser o mais adequado, e que o nosso Pai Adão teve de ocultar com uma folha já não sei bem de quê (os especialistas têm versões contraditórias sobre a espécie vegetal. Cá para mim, ele e a Eva devem é ter envergado uma burqa, só que a Igreja não o quer assumir, por razões óbvias). Mas, que raio! Aquele gesto boçal indicia que o Senhor Presidente lá daquela agremiação futebolística só entende a manifestação de júbilo através da impudicícia, o que é sinal de indesmentível primarismo. Ora primarismo e boçalidade não são incómodos e inconvenientes só para reis e rainhas; também o são para pessoas sensíveis, como é o meu caso e, tenho a certeza, para muitas outras pessoas padecentes da minha fragilidade estrutural.

Agora, para terminar – que isto já vai um pouco longo e (como de costume) ninguém vai ler – a faena. Pois não é no mesmo país que mantém a magnífica tradição da corrida de touros, não é neste mesmo país de agressão brutal a animais pouco menos do que indefesos, dados em espectáculo a um público que assim é exposto a uma cultura de violência e crueldade banalizadas e tornadas transponíveis para todos os sectores da vida social que, depois, se persegue um energúmeno por ter roçado os lábios pelos de uma mulher? Bem sei que todos nós já vimos equipados, à partida, com o nosso cerebrozinho reptiliano, herdado da horda primitiva, quando era preciso matar para sobreviver. Mas isso já foi há algum tempo. Hoje em dia, bastar-nos-iam coisas tão comezinhas como a competição, as leis do mercado, etc. e tal, para alimentar o tal cerebrozinho.

Na faena (não, não me refiro às trivialidades que acabei e mencionar), os terríveis quadrúpedes são bandarilhados, driblados, sangrados até às vascas do estertor, para gáudio de espectadores enlevados com a galhardia, a coragem, a virilidade de toureiros, cavaleiros e forcados. Nesse momento, o toureiro – olé! – espeta-lhe a espada no cachaço, golpe dito de graça, que redime (?) o espectáculo. Assim mostra o pecador, no confessionário, arrependimento pelos pecados já praticados, na certeza de que lá voltará, em breve.

Ao Rubiales, por um beijo nos lábios, diante de tanta gente, dois Padres-nossos, uma ave-maria, e que vá com Deus.

A impostura religiosa e a caridade cristã

Li, há dias, dois «opúsculos blasfemos» chamados A Arte de Não Acreditar em Nada, e Livro dos Três Impostores, editados em conjunto pela Antígona. O primeiro data da segunda metade do século XVI e “levou o seu autor, Geoffroy Vallée, em 1574, a ser enforcado em praça pública e queimado ainda vivo» (reproduzo aqui o texto da badana), partilhando assim a sorte de Giordano Bruno, sorte essa a que Copérnico e Galileu escaparam por pouco; o segundo, de autor anónimo, é anterior, provavelmente medieval, e chegou-nos em duas versões algo distintas, uma do século XVII e outra do século XVIII. Estes impostores são «um pastor (Moisés), um curandeiro (Jesus) e um cameleiro (Maomé)», violentamente invectivados e desmitificados, numa Idade Média que suporíamos ao abrigo de tal despautério…

Sabemos que o catolicismo feudal foi progressivamente posto à prova pela heresia protestante da burguesia ascendente, mas aquilo que a Reforma comportou de positivo, em termos de mitigação dos excessos, da corrupção e do obscurantismo da Igreja de Roma não chega para a indultar. Aliás, ao assumir a defesa intransigente dos príncipes alemães na luta que os camponeses travaram contra eles, na primeira metade do século XVI, e dando os últimos como merecedores da morte “em corpo e alma” (1), Lutero não se revela propriamente um grande exemplo de caridade cristã. O que também não é de estranhar: ele mais não faz do que seguir o ensinamento de Paulo, que nos insta a respeitar e a temer as “potestades” (autoridades), «porque o príncipe é ministro de Deus para bem teu. Mas se obrares mal, teme; porque não é debalde que ele traz a espada. Porquanto ele é ministro de Deus, vingador em ira contra aquele que obra mal.» (Epístola aos Romanos XIII, 1-4). Por acréscimo, o autor das teses de ԝittenberg, cinde o homem em dois, o “interior” e o “exterior”, maneira expedita de justificar todas as desigualdades, pois estava criada uma “moral dupla”, com “a liberdade adstrita à esfera ‘interior’ da pessoa” (Marcuse). Mas, para não nos ficarmos pelos prosélitos, não é o próprio fundador do cristianismo quem exorta aqueles que o quiserem seguir a “aborrecer” pai, mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs e a própria vida (Lucas, XIV, 26)? A expressão “caridade cristã” talvez devesse ser usada como exemplo de oxímoro, e, quanto a bondade, adesão à verdade e à realidade, progressismo, etc., de católicos e de protestantes (2), estamos conversados, o mesmo se podendo dizer das outras religiões do Livro. Curandeiro, pastor e cameleiro, como é comum entre impostores, foram altamente eficazes na inculcação das suas mensagens.

 (1) Martín Lutero, «Contra las hordas ladronas y asesinas de los campesinos», 1525

(2) Veja-se o comportamento actual das diferentes Igrejas, capelas e seitas protestantes, nomeadamente nos USA e no Brasil,

 

Algumas questões de índole científica

Contrariamente a mim, que sou da área das Letras, mas fascinado pela Ciência, particularmente pela Cosmologia, há pessoas no fb que sabem do que falam –  José M F Costa, por exemplo – razão pela qual me atrevo a dar aqui conta de algumas dúvidas que tenho. Se alguém tiver alguma disponibilidade para colmatar a minha ignorância, aqui fica, desde já, a expressão da minha gratidão.

 

Tenho lido algumas obras de divulgação científica (Atkins, Hawking, Kaku) que me deixam perplexo, no sentido de encantado com a maravilha que é o Universo. Se coisas como a gravidade não ser propriamente uma força, mas o efeito provocado pela curvatura do espaço-tempo na proximidade de objectos com massas enormes, são coisas que ainda estão ao meu alcance, já outras, que passo a enumerar, são (ainda) mais difíceis de entender:

 

  1. Quando se fala de expansão contínua e acelerada do Universo tem de se supor que ele se expande para algum lado. Esse “lado” não é ainda Universo? Porque, se não existisse espaço para onde o Universo pudesse expandir-se, como poderia ele expandir-se? Julgo saber que o Peter Atkins, pelo menos, defende a ideia do nada absoluto, antes do big bang, mas

 

  1. Se a partícula ínfima e de densidade infinita que deu origem à explosão inicial pôde expandir-se rapidamente, expandiu-se por ter espaço para onde se expandir. Em qualquer caso, a ideia de um Universo, pré ou pós-big bang, finito afigura-se-me estranha: a ideia de uma espécie de parede ou de uma esfera fechada é de difícil compreensão, porque, por detrás de um “limite”, há sempre algo e mais algo e mais algo. Daí me parecer mais fácil de entender (o que não significa necessariamente ser verdadeira) a teoria de um Universo sem princípio nem fim, ainda que em constante evolução, ou a teoria do multiverso, esta relacionada com os buracos negros.

 

  1. A teoria das cordas também é complicada, mas aquele exemplo do universo bidimensional do peixe é convincente: o peixe está num aquário tão estreito que só lá consegue mover-se em comprimento e em largura; o aquário não tem altura suficiente para o peixe subir e descer. Para esse peixe, o universo só tem duas dimensões; nós conhecemos três dimensões espaciais mais o tempo, quatro; poderá haver outras, em relação às quais estamos em situação semelhante à do peixe?

 

  1. A teoria quântica, essa sim, pelo que pude ler em Michio Kaku, afigura-se-me, pelo menos no particular da não existência do não observado e da existência em todos os estados, como algo que lembra o idealismo filosófico de Berkeley: «Se uma árvore cair numa floresta, mas não estiver lá ninguém para a ver cair, então, na realidade, ela não caiu […]. Antes de ser feita uma observação, não se sabe se ela caiu ou não. De facto, a árvore existe simultaneamente em todos os estados possíveis: pode arder, cair, ser cortada para lenha, ser serrada, etc. Logo que é feita uma observação, a árvore adquire subitamente um estado definido e vemos, por exemplo, que ela caiu.» (Kaku, Mundos Paralelos, p. 171) Parece brincadeira. Felizmente, nem tudo é assim (suponho eu) na física quântica.

 

(5. Brincadeira por brincadeira, o beijo do Rubiales só existiu porque foi observado. Azar dele.)

Algumas questões de índole científica

 

O beijo e outras merdas (se me é permitido)

O beijo e outras merdas (se me é permitido)

Tendo por hábito só postar coisas sobre assuntos tipo “aquela” guerra e outros que nem ao menino Jesus interessam (para mais, com um desesperante apego à gramática normativa, acho eu!) – resolvi mandar um bitaite que, tendo algo a ver com a Jenni e o Rubiales, tem sobretudo a ver com a faena.

Quanto ao beijo, já tudo foi dito. Os vídeos ilustram tudo e mais alguma coisa. Só falta convocar o Conselho de Segurança da ONU e decretar que todo e qualquer toque entre nacionais de membros das United Nations cujo consentimento não seja atestado por certidão notarial implicará sanções contra o Estado em causa.

Encerrada a magna questão do beijo (as televisões já o recuperarão), vamos agora a duas outras: a da gestualidade genital do Senhor Rubiales e a da faena.

Quanto à primeira, o que parece ter incomodado alguns comentadores foi o facto de o dito Senhor ter garbosamente empunhado os atributos mais óbvios da sua masculinidade a escassa distância da Rainha Letícia – crime (de lesa-majestade), disse ela (ou disseram eles). Chato, como sabe que sou quem me conhece, foi aí que eu me senti vítima de agressão sexual. Coitado, que sensível que ele é! – dirão alguns dos meus leitores mais lúcidos e acostumados à feição patriarcal da nossa sociedade. Pois é verdade: reconheço que estes gestos demonstrativos dos instintos mais básicos e naturais de qualquer espécie animal me incomodam. Não é o sexo que me incomoda, por amor de Deus! Estou-me nas tintas! O que me incomoda é a exibição daquilo que está muito bem situado lá no sítio que Deus entendeu ser o mais adequado, e que o nosso Pai Adão teve de ocultar com uma folha já não sei bem de quê (os especialistas têm versões contraditórias sobre a espécie vegetal. Cá para mim, ele e a Eva devem é ter envergado uma burqa, só que a Igreja não o quer assumir, por razões óbvias). Mas, que raio! Aquele gesto boçal indicia que o Senhor Presidente lá daquela agremiação futebolística só entende a manifestação de júbilo através da impudicícia, o que é sinal de indesmentível primarismo. Ora primarismo e boçalidade não são incómodos e inconvenientes só para reis e rainhas; também o são para pessoas sensíveis, como é o meu caso e, tenho a certeza, para muitas outras pessoas padecentes da minha fragilidade estrutural.

Agora, para terminar – que isto já vai um pouco longo e (como de costume) ninguém vai ler – a faena. Pois não é no mesmo país que mantém a magnífica tradição da corrida de touros, não é neste mesmo país de agressão brutal a animais pouco menos do que indefesos, dados em espectáculo a um público que assim é exposto a uma cultura de violência e crueldade banalizadas e tornadas transponíveis para todos os sectores da vida social que, depois, se persegue um energúmeno por ter roçado os lábios pelos de uma mulher? Bem sei que todos nós já vimos equipados, à partida, com o nosso cerebrozinho reptiliano, herdado da horda primitiva, quando era preciso matar para sobreviver. Mas isso já foi há algum tempo. Hoje em dia, bastar-nos-iam coisas tão comezinhas como a competição, as leis do mercado, etc. e tal, para alimentar o tal cerebrozinho.

Na faena (não, não me refiro às trivialidades que acabei e mencionar), os terríveis quadrúpedes são bandarilhados, driblados, sangrados até às vascas do estertor, para gáudio de espectadores enlevados com a galhardia, a coragem, a virilidade de toureiros, cavaleiros e forcados. Nesse momento, o toureiro – olé! – espeta-lhe a espada no cachaço, golpe dito de graça, que redime (?) o espectáculo. Assim mostra o pecador, no confessionário, arrependimento pelos pecados já praticados, na certeza de que lá voltará, em breve.

Ao Rubiales, por um beijo nos lábios, diante de tanta gente, dois Padres-nossos, uma ave-maria, e que vá com Deus.