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Também de esquerda

Espaço destinado a reflexões (geralmente) inspiradas na actualidade e na Literatura.

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Orgulho branco? (a propósito de um mail recebido hoje)

 
O que o mail diz:
 

• Uma perspectiva interessante de ver...

 

• ORGULHO EM SER BRANCO

 

 

• Michael Richards conhecido como Kramer da série televisiva Seinfeld, levantou um bom problema. O que se segue é o seu discurso de defesa em tribunal depois de ter feito alguns comentários raciais na sua peça de comédia. Ele levanta alguns pontos muito interessantes.

 

• Orgulho em ser Branco

 

• Finalmente alguém diz isto.

 

• Quantas pessoas estão actualmente a prestar atenção a isto? Existem Afro-Americanos, Americanos Hispânicos, Americanos Asiáticos, Americanos Árabes, etc.

• E depois há os apenas Americanos.

• Vocês passam por mim na rua e mostram arrogância. Chamam-me 'White boy,' 'Cracker,' 'Honkey,' 'Whitey,' 'Caveman' ...e está tudo bem. Mas quando eu vos chamo Nigger, Kike, Towel head, Sand-nigger, Camel Jockey, Beaner, Gook, or Chink, vocês chamam-me racista. Quando vocês dizem que os Brancos cometem muita violência contra vocês, então por que razão os ghettos são os sítios mais perigosos para se viver?

• Vocês têm o United Negro College Fund.

• Vocês têm o Martin Luther King Day.

• Vocês têm Black History Month.

• Vocês têm o Cesar Chavez Day.

• Vocês têm o Yom Hashoah.

• Vocês têm o Ma'uled Al-Nabi.

• Vocês têm o NAACP.

• Vocês têm o BET [Black Entertainment Television] (tradução: Televisão de Entretenimento para pretos)

• Se nós tivéssemos o WET [White Entertainment Television] seriamos racistas.

• Se nós tivéssemos o Dia do Orgulho Branco, vocês chamar-nos-iam racistas. Se tivéssemos o mês da História Branca, éramos logo taxados de racistas.

• Se tivéssemos alguma organização para ajudar apenas Brancos a andarem com a sua vida para frente, éramos logo racistas.

• Existem actualmente a Hispanic Chamber of Commerce, a Black Chamber of Commerce e nós apenas temos a Chamber of Commerce. Quem paga por isto?

• Uma mulher Branca não pode ser a Miss Black American, mas qualquer mulher de outra cor pode ser a Miss America.

• Se nós tivéssemos bolsas direccionadas apenas para estudantes Brancos, éramos logo chamados de racistas.

• Existem por todos os EUA cerca de 60 colégios para Negros. Se nós tivéssemos colégios para Brancos seria considerado um colégio racista. • Os pretos têm marchas pela sua raça e pelos seus direitos civis, como a Million Man March.. Se nós fizéssemos uma marcha pela nossa Raça e pelos nossos direitos seriamos logo apelidados de racistas.

• Vocês têm orgulho em ser pretos, castanhos, amarelos ou laranja, e não têm medo de o demonstrar publicamente. Mas se nós dissermos que temos "Orgulho Branco", vocês chamam-nos racistas.

• Vocês roubam-nos, fazem-nos carjacking, disparam sobre nós. Mas, quando um oficial da polícia Branco dispara contra um preto de um gang ou pára um traficante de droga preto que era um fora-da-lei e um perigo para a sociedade, vocês chamam-no racista.

• Eu tenho orgulho.

• Mas vocês chamam-me racista.

• Por que razão só os Brancos podem ser chamados de racistas?

 

 

O meu comentário:

 

 

Parece-me natural discriminar positivamente aqueles que, durante tanto tempo, foram vítimas de discriminação negativa. Aqueles e aquelas, aliás, porque algo de semelhante se passa, por exemplo, com os trabalhadores e as mulheres. Há o Dia do Trabalhador, mas não há o dia do Patrão (ou do empresário); há o Dia da Mulher, mas não há o Dia do Homem. Do patrão e do homem, são todos os outros - costuma dizer-se - como dos brancos foi e é a posição cimeira nas sociedades modernas.

 

Se há algum exagero na discriminação positiva, talvez ele se deva à nossa má consciência e ao balanceio que tantas vezes ocorre na história, ao passar-se de um ciclo para outro (o pêndulo oscila com grande amplitude até voltar ao ponto de equilíbrio). E, se há abusos, que se reprimam - quando não, estaremos a incorrer no vício de paternalismo, que é uma forma encapotada de racismo.

 

Pela parte que me toca, nunca senti nem sinto nenhuma espécie de orgulho em ser branco (se o espelho me não engana), mas já o sinto na afirmação das minhas convicções políticas - minoritárias, como sabes, e sempre muito reprimidas, características que me aproximam dos negros (gosto muito desta palavra, quer como nome quer como adjectivo, e detesto o substantivo "preto"). No fundo, somos (os que as perfilhamos) os "pretos" da sociedade capitalista. Por isso, também, nada vejo de estranho na afirmação do orgulho dos negros, nem naquela assunção de negritude do Vinicius de Morais, que se dizia o branco mais negro do Brasil.

 

O que estranho e me choca é que haja quem conteste a necessidade de atribuir o rendimento social de inserção a quem não tem meios de subsistência. Como estranho e me choca não se querer admitir que, nas relações laborais, os trabalhadores, por muito numerosos que sejam, são a parte fraca, perante o patrão, e que, por tal motivo, devem ser protegidos pela lei e pelas instituições. O capitalismo selvagem não o admite, mas a democracia burguesa e o seu Estado de direito moderno sabem que só têm a ganhar com isso.