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Também de esquerda

Espaço destinado a reflexões (geralmente) inspiradas na actualidade e na Literatura.

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Espaço destinado a reflexões (geralmente) inspiradas na actualidade e na Literatura.

A “ajuda” americana ao Haiti

 

O terramoto que provocou dezenas de milhares de vítimas no Haiti sensibilizou-nos a todos. E ninguém pôde deixar de se congratular com a rapidez da ajuda internacional, ainda que circunstâncias várias estejam a dificultar a entrega de víveres e medicamentos àqueles que deles necessitam.
Somos, provavelmente, também muitos a ter estranhado o aparato militar que, oficialmente a propósito da operação humanitária, está a transformar o Haiti numa espécie de novo Iraque ou Afeganistão, com milhares de soldados norte-americanos, navios de guerra, porta-aviões, etc. Segundo Michel Chossudovsky (ver artigo “A militarização da ajuda de emergência ao Haiti: Trata-se de uma operação humanitária ou de uma invasão?”, in http://resistir.info), são os seguintes os
 
Activos militares dos EUA a serem enviados ao Haiti (de acordo com anúncios oficiais)

O
navio de assalto anfíbio USS Bataan (LHD 5) e os navios anfíbios dock landing USS Fort McHenry (LSD 43) e USS Carter Hall (LSD 50).

Uma Unidade Anfíbia dos Marines com 2000 membros da
22ª Unidade Expedicionária da Marinha e soldados da 82ª divisão aerotransportada do exército . Novecentos soldados estão destinados a chegar ao Haiti em 15 de Janeiro.

O porta-aviões USS Carl Vison e os navios complementares de apoio (chegados a Port au Prince em 15/Janeiro/2010):
USS Carl Vinson CVN 70

O
navio hospital USNS Comfort

Várias embarcações e helicópteros da Guarda Costeira dos EUA.

Os três navios anfíbios unir-se-ão ao porta-aviões USS Carl Vinson, ao cruzador com mísseis guiados
USS Normandy e à fragata com mísseis guiados USS Underwood .
 
Para cúmulo, a imprensa começa a fazer-se eco do descontentamento de muita gente empenhada na operação humanitária. O Público de hoje, 18, refere o caso dos Médicos Sem Fronteiras, cujo hospital cirúrgico insuflável transportado por avião não pôde ser descarregado no sábado passado. Mas também os casos da Cruz Vermelha, do Brasil, da Itália e da França. O ministro francês dos Negócios Estrangeiros já apresentou um protesto junto do Departamento de Estado (norte-americano, evidentemente). E o embaixador francês diz, preto no branco, ainda segundo o Público, que o aeroporto se transformou “num anexo de Washington, não num aeroporto para a comunidade internacional”.
Ora esta estranheza de uns e descontentamento de outros talvez não sejam de todo despropositados, se tivermos em conta as ingerências estado-unidenses na América latina, de que o mapa seguinte (www.monde-diplomatique.fr) dá uma ideia.
Philippe Rekacewicz — janvier 1995
 
É que Cuba está ali, mesmo ao pé. Cuba e as Honduras (de Zelaya) e a Nicarágua (dos sandinistas) e El Salvador (de Somoza) e, um pouco mais longe, a Venezuela (de Chávez), a Colômbia (de Uribe), a Bolívia (de Morales), o Equador (de Correa), o Chile (de Pinochet). Como é óbvio, neste conjunto de parêntesis há que distinguir o subgrupo democrático de Pinochet, Somoza e Uribe do subgrupo de terríveis ditadores todos eles mais ou menos integrantes do “eixo do mal” ou com ele aparentados, quais sejam Chávez, Morales, etc. A grande democracia americana nunca se engana, nisto das filiações democráticas.
Termino com mais uma citação de Chossudovsky e do artigo já mencionado:
“Intervenções militares recentes dos EUA no Haiti

Houve várias intervenções militares patrocinadas pelos EUA na história recente. Em 1994, a seguir a três anos de domínio militar, uma força de 20 mil tropas de ocupação e de "manutenção da paz" foi enviada ao Haiti. A intervenção militar estado-unidense de 1994 "não se destinava a restaurar a democracia". Muito pelo contrário: foi executada para impedir uma insurreição militar contra a Junta militar e as suas coortes neoliberais". (Michel Chossudovsky,
The Destabilization of Haiti, Global Research, February 29, 2004)

As tropas dos EUA e dos seus aliados permaneceram no país até 1999. As forças armadas haitianas foram desmanteladas e o Departamento de Estado dos EUA contratou uma companhia de mercenários, a DynCorp, para proporcionar "conselho técnico" na reestruturação da Polícia Nacional do Haiti. (Ibid).

O golpe de Estado de Fevereiro de 2004

Nos meses que antecederam o golpe de Estado de 2004, forças especiais dos EUA e da CIA estiveram a treinar esquadrões da morte compostos pelos antigos tonton macoute da era Duvalier. O exército paramilitar rebelde cruzou a fronteira da República Dominicana no princípio de Fevereiro de 2004. "Era uma unidade paramilitar bem armada, treinada e equipada integrada pelos antigos membros de Le Front pour l'avancement et le progrès d'Haiti (FRAPH), os esquadrões da morte "à paisana", envolvidos em matanças em massa de civis e assassínios políticos durante o golpe militar de 1991 patrocinado pela CIA, o qual levou ao derrube do governo democraticamente eleito do presidente Jean Bertrand Aristide". (ver Michel Chossudovsky,
The Destabilization of Haiti: Global Research. February 29, 2004 )

Foram enviadas tropas estrangeiras para o Haiti. O MINUSTAH foi estabelecido na véspera do golpe de Estado de Fevereiro de 2004 patrocinado pela CIA e do sequestro e deportação do presidente democraticamente eleito Jean Bertrand Aristide. O golpe foi instigado pelos EUA com o apoio da França e do Canadá.”