Brown e a viúva preconceituosa

Se bem entendi, Gordon Brown, que supunha não estar a ser ouvido por mais ninguém, queixou-se ao assessor. Tinha sido um erro porem-no a falar com uma eleitora do Partido Trabalhista que, grosso modo, achava mal a Grã-Bretanha dar acolhimento a imigrantes de Leste. Isto porque, se bem entendi, os imigrantes são um fardo para o país. Preconceituosa – foi o epíteto que o primeiro-ministro inglês lhe pespegou, julgando não ser ouvido.
Vítima desta escuta inconveniente, Brown desfez-se em desculpas junto da senhora. Óbvio disparate. Quem deveria desculpar-se era ela – primeiro, porque revelara a crassa ignorância de ter os imigrantes (do Leste ou de qualquer outro quadrante) por um fardo, quando sem eles as economias ocidentais se afundariam; segundo, porque, sendo apresentada como apoiante dos trabalhistas, ao reproduzir um lugar-comum do discurso de extrema-direita, associava aos trabalhistas o labéu da xenofobia.
Não fosse a preocupação com a gestão eleitoralista da sua imagem, Brown deveria ter dito à senhora, frontalmente e sem rodeios, que estava errada e que a banalidade que proferira não passava de um preconceito. Só por não o ter feito se justificava um pedido de desculpas – à senhora e aos apoiantes do Partido Trabalhista.
Já a notícia do Público de ontem tem o seguinte curioso título: “Gordon Brown insulta viúva em gaffe de campanha”. Ao chamar “preconceituoso” a alguém, estou a dizer-lhe: o que pensas a esse respeito não resiste ao confronto com a realidade, ou seja, não tem fundamento. Será isto insultar? Por outro lado, a que propósito vem a invocação da viuvez da senhora numa notícia em que o defunto marido não mete prego nem estopa?
Eu, se fosse o Público, pedia desculpa aos leitores.