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Também de esquerda

Espaço destinado a reflexões (geralmente) inspiradas na actualidade e na Literatura.

Também de esquerda

Espaço destinado a reflexões (geralmente) inspiradas na actualidade e na Literatura.

Armas de destruição maciça na Líbia

         Contrariando os desejos da ONU, da Coligação e da comunidade internacionais, o coronel Kadhafi e as forças fiéis ao regime, longe de deporem as armas, continuam – imagine-se! – a defender-se. Como diria o outro, já não há respeito. O que muito penaliza todos quantos continuam a depositar fé, esperança (e quiçá caridade) nos valores supremos da civilização cristã, neoliberal e democrata ocidental. Ora um tal despautério merece garantidamente uma resposta adequada, e essa não poderá esquivar-se ao habitual modelo de provas dadas, cujo se encontra em aplicação em paragens como sejam o Iraque. Como é do conhecimento geral, no Iraque a aplicação do plano de salvação do país das garras de Saddam Hussein decorreu, em última análise, da existência de provas inquestionáveis da existência de armas de destruição maciça, o que ficou amplamente demonstrado, quer por declarações insofismáveis de Tony Blair e Durão Barroso, quer por colóquio místico de George W. Bush com Deus, quer ainda por fotografias e outros documentos esmagadores apresentados pelo General Colin Powell nas Nações Unidas. Facto este que me determina, finalmente, a sair do anonimato em que tenho vegetado há decénios (praticamente, desde que nasci), vindo, por este meio pôr os meus modestos préstimos à disposição da comunidade internacional, da Coligação igualmente internacional e da Organização das Nações Unidas em Defesa da Civilização (ONUDC), a fim de tornar possível (política e socialmente falando) a invasão e ocupação da Líbia. Com efeito, possuo provas indesmentíveis da existência na Líbia de armas de destruição maciça em pelo menos duas das três tendas que o coronel utilizava nas suas andanças pelo deserto, antes da Odisseia ao Amanhecer, e até, em menor quantidade, mas mesmo assim não despicienda, na que trouxe aquando da sua estada em Lisboa. Não me perguntem como o soube, que estou obrigado ao dever de confidencialidade prescrito por um código deontológico pessoal e jurei não revelar as minhas fontes nem sequer ao Procurador-geral da República. Mas estou disponível para me encontrar com Obama, Sarkozy, Berlusconi e Sócrates/Coelho nas Lajes, para uma cimeira que ficará certamente para a História. Vale!

Rapidamente e em força – para a Líbia

Apesar de sucessivos avanços e recuos de “rebeldes” e de forças do governo líbio, é pouco provável que estas últimas consigam resistir ao imenso poderio militar da NATO/Coligação. Mais mês menos mês, teremos instalado em Tripoli um governo made in USA / EU, aparentado com outros saídos de processos político-militares com alguma semelhança, como é o caso do Afeganistão e do Iraque, para onde a “democracia” foi igualmente exportada nos porões dos bombardeiros. (Como alguém disse, cheio de razão, bombista é o homem que tem a bomba, mas não tem o bombardeiro).

Entretanto, no terreno, não deixa de ser edificante a atitude submissa e mendicante dos “rebeldes” em relação à “ajuda” da “Coligação”. Agora, colocados perante a sua incapacidade para levarem a melhor, mesmo com os bombardeamentos que nada poupam (veja-se a este respeito o esclarecedor artigo de Miguel Urbano Rodrigues, em http://resistir.info/mur/libia_26mar11.html), parecem reivindicar uma intervenção terrestre, o que poderá não agradar muito às forças da NATO/Coligação, mas poderá vir a acontecer, bastando para o efeito que as televisões das democracias ocidentais continuem a inculcar na opinião pública a “informação” de que Kadhafi está a massacrar o seu povo até que o Conselho de Segurança da ONU se sinta suficientemente confortado para votar todas as zonas de exclusão que forem necessárias (com a eventual abstenção da Rússia, do Brasil, da Índia e da China e posterior declaração de desconforto da Liga Árabe).

O falso dilema de Passos Coelho

            Não sei se é falta de lembrança, se é falta de imaginação ou se é cisma. O facto é que, de cada vez que volta à vaca fria, que é como quem diz à temática do aumento dos impostos, o Dr. Passos Coelho, adoptando aquela pose própria de quem alia aos pergaminhos de uma educação superior a expectativa risonha de uma próxima ascensão ao estatuto de chefe de governo, sai-se com esta clarificação: o que eu disse foi que, se as medidas tomadas pelo actual governo, com o apoio do PSD, não forem suficientes para debelar o défice, prefiro agravar os impostos sobre o consumo a penalizar ainda mais as pensões de reforma mais pequenas. Ora quem isto diz podia muito bem dizer: prefiro agravar os impostos sobre o consumo a cortar ainda mais no subsídio de desemprego, ou no abono de família, ou no rendimento social de inserção, ou na comparticipação nos medicamentos, e assim sucessivamente. Porque, de facto, todas estas putativas medidas têm como alvo os consumidores e, em geral, os cidadãos de mais fracos recursos, e a alternativa apresenta-se sob a forma tautológica: ou prejudico os mais desfavorecidos ou prejudico os mais carenciados. O que não ocorre ao Dr. Passos Coelho é a possibilidade de enunciar a alternativa de forma verdadeiramente contrastante, como seria, por exemplo: prefiro taxar as grandes fortunas, ou as transacções em bolsa, ou os lucros dos bancos, a agravar um imposto indirecto que penaliza mais quem tem menos. Mas, pensando bem, que sentido faria o Dr. Passos Coelho fazer suas medidas de justiça social que são defendidas pelo PCP?!

Volubilidades

I

 

            Dois ucranianos encontram-se, abraçam-se efusivamente e, enquanto isto, um deles apunhala sorrateiramente o outro pelas costas. O apunhalado ainda tem tempo para sussurrar:

 

            ― Porque me apunhalas, se não te fiz favor nenhum?

 

            Foi mais ou menos esta a anedota que Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) contou, ontem à noite, no seu habitual comentário da TVI, querendo com ela ilustrar a volubilidade de comportamentos da França e da Grã-Bretanha em relação ao ex-amigo Kadhafi. Com a honestidade intelectual que nem sempre o caracteriza, MRS ajudava depois os telespectadores a descodificar a anedota: é que, quando se aceitam favores de proveniências inconvenientes, o melhor é fazer desaparecer as provas, isto é, quem no-los fez. É sabido, com efeito, que Sarkozy beneficiou de substancial financiamento do “guia da revolução” para a sua campanha presidencial e que uma prestigiada escola superior inglesa, a mesma onde estudou e se doutorou al Islam, filho de Kadhafi, recebeu igualmente donativos provenientes da Líbia, o que levou à demissão do seu reitor. (Isto pelo que a imprensa noticiou; ignoramos – o comum dos mortais – que e quantos outros negócios foram feitos no âmbito das relações de amizade e de cooperação entre estes perfeitos cavalheiros impolutos e o tiranete paranóico que agride barbaramente o seu próprio povo.) Mais importante, MRS acrescentou ainda que no Bahrein o poder também está a matar civis inocentes, com a ajuda solidária da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos, e aí não se intervém. É que o petróleo líbio dá muito jeito. Quando MRS tem destes assomos de verdade, mesmo com aquele risinho cínico de quem, no fundo, se está borrifando para uns quantos civis líbios que possam quinar, apetece chamar Pedro Santana Lopes e Miguel Pais do Amaral – que venham pôr cobro neste desbocado!

 

 

 

II

             

            A Rússia e a China, que, abstendo-se no Conselho de Segurança da ONU (juntamente com o Brasil de Dilma), viabilizaram a operação militar em curso contra a Líbia, vieram já exprimir algum incómodo pelo facto de a implementação da zona de exclusão aérea estar a vitimar civis, corolário indesejável que se pretendia a todo o custo evitar, tendo sido até o facto de Kadhafi estar a matar civis inocentes que levou o Conselho de Segurança da ONU a aprovar a implementação da referida zona de exclusão aérea. Do mesmo modo, a Liga Árabe mostra-se algo apoquentada com o facto de se estar a atingir aqueles mesmos que urgia defender a todo o transe. Ora, se a Rússia e a Liga Árabe têm a desculpa de serem um país e uma organização com amplas provas dadas nos domínios da democracia e do respeito pelos direitos humanos, já a China tinha a obrigação de se lembrar dos ensinamentos do livrinho vermelho de Mao e de não passar cheques em branco ao tigre do imperialismo – que será de papel, sim senhor, mas ainda vai fazendo estragos, enquanto o papel não se rasgar de vez. Vir chorar sobre o leite derramado é que não abona a favor da sua coerência.

 

III

 

            No meio deste espectáculo deplorável de volubilidade, apenas um actor político nacional se comportou, no Parlamento Europeu, com a dignidade telúrica de um bloco de granito. Não, desengane-se quem pensou que me referia ao Partido Comunista Português, cujos eurodeputados foram os únicos portugueses a votar contra a intervenção militar na Líbia. Que ganhou o PCP com isso? Ficou isolado, mais uma vez, como quase sempre, no seu vezo quixotesco de combater moinhos de vento. Bloco de granito foi o de Esquerda, que, fiel a si mesmo e ao seu deslumbramento por Obama (lídimo representante e continuador das políticas de pilhagem dos recursos naturais do planeta, como diriam os comunistas, mas, na realidade, cavaleiro da Ordem da Guerra ao Terrorismo) alinhou com toda a deputação da direita e da social-democracia europeia.

 

            Com uma extrema-esquerda (?) destas, que falta nos faz a social-democracia?

 

 

RESPOSTA AOS COMENTÁRIOS DE DYLAN

(ao post de 11 de Março, com um artigo de Michel Chussodovsky)


Não se trata de uma questão de puritanismo. Se eu pudesse acreditar na boa-fé dos EUA e da EU, talvez achasse bem que se emendasse a Carta das Nações Unidas no tocante ao direito de ingerência. Porém, sinto-me incapaz disso, por razões várias, de que enumero algumas:

  • vivi no tempo do fascismo salazarista, com o qual as democracias europeias e a americana conviveram pacificamente, até que o povo se libertou pelos seus próprios meios (felizmente, sem termos sido bombardeados pela NATO);
  • presenciei, à distância, o papel dos EUA no golpe de Estado de Pinochet e a sua convivência pacífica com o regime deste e de tantos outros torcionários latino-americanos;
  • testemunhei a bárbara agressão à Federação Jugoslava, destruída na sequência de ingerência “humanitária”, por alegada limpeza étnica, na sequência da qual, aliás, surgiu um novo Estado, já reconhecido por algumas democracias, contra o direito internacional, com um líder que esteve envolvido em tráfico de droga e, mais recentemente, em tráfico de órgãos humanos;
  • observei o apoio dos EUA aos taliban (e ao amigo Bin Laden) e a posterior zanga, com a conhecida história de invasão, ocupação e instauração de um regime corrupto e fantoche;
  • acompanhei o processo das “armas de destruição maciça” que nunca existiram, embora os Quatro Magníficos das Lajes as tenham visto não se sabe como nem onde, o que não impediu a invasão e ocupação do Iraque, com tudo o que isso implicou, implca e implicará;
  • vejo que os EUA, e a EU, continuam a conviver amistosamente com os regimes mais asquerosos do planeta, sempre que isso lhes traz vantagens ou assegura a manutenção das mesmas. Fizeram-no com a Tunísia de Ben Ali e o Egipto de Mubarak; fazem-no com os sauditas e as demais ditaduras árabes; fizeram-no com o ditador líbio, nos últimos anos, a partir do momento em que este adoptou medidas que lhes agradaram (“A partir da II Guerra do Golfo, Kadhafi deu uma guinada de 180 graus. Submeteu-se a exigências do FMI, privatizou dezenas de empresas e abriu o país às grandes petrolíferas internacionais. A corrupção e o nepotismo criaram raízes na Líbia”, Miguel Urbano Rodrigues, http://www.odiario.info/?p=1993)

Rapidamente e em força...

PR: Cavaco pede a jovens para se empenharem em "missões e causas essenciais" para o futuro de Portugal

15 de Março de 2011, 14:33

 

Lisboa, 15 mar (Lusa) - O Presidente da República instou hoje os jovens a empenharem-se em "missões e causas essenciais ao futuro do país" com a mesma coragem e determinação com que fizeram os militares que participaram há 50 anos na guerra em África.

 

"Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar", afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva.

 

Pois, acrescentou, enquanto portugueses, não haverá "causa maior" do que dedicar o esforço e a iniciativa "ao serviço da nação e dos combates que é necessário continuar a vencer, para promover um futuro mais justo, mais seguro e mais próspero".

 

http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/12285626.html

 

 

Ouvi isto na rádio e depois li no Sapo. Deprimente. Primeiro, o Presidente nunca usa (a julgar pelo texto da Lusa) a expressão “guerra colonial”, que parece desconhecer. Não. Opta pela mistificante designação de “guerra do Ultramar”, à boa maneira do "antigo regime", que, por acaso, era o regime fascista. Segundo, não põe a tónica no facto de a guerra colonial ter sido uma guerra injusta, que enlutou milhares de famílias portuguesas e africanas, e de os jovens soldados que para lá foram terem ido à força. Não. Não foram iludidos pela propaganda do regime, com o apoio sempre prestável da Igreja, sobretudo nos meios rurais. E não foram defender os interesses de um punhado de colonos, do poder económico e do regime, numa guerra de pilhagem dos recursos naturais dos povos africanos. Não. Foram defender a pátria.

 

Depois, da amálgama que no discurso é feita entre o presente sombrio do país, a braços com a sempiterna crise, e o passado glorioso de há cinquenta anos, quando galhardos jovens se dispunham a morrer em solo africano pela defesa da pátria, com “coragem, desprendimento e determinação”, resulta a impressão de que a “guerra em África” (ah! esta predilecção pela geografia!) foi uma “missão e causa essencial ao futuro do país”, uma “causa maior”, que os jovens de hoje têm de honrar, empenhando-se em novas proezas de idêntico gabarito.

 

Quão próximo este Presidente parece estar dos próceres do Estado Novo!

 

E quão distante dos ideais libertadores do 25 de Abril!

 

E como foi judiciosa a apreciação do Chefe de Brigada da PIDE que, em 1967, registou na ficha do jovem licenciado em Finanças: “Integrado no actual regime político”!

Insurreição e intervenção militar na Líbia - EUA e NATO tentaram um golpe de insurreição e intervenção militar

O presente texto, de Michel Chossudovsky, publicado em http://www.odiario.info/?p=2004, contém elementos de reflexão imprescindíveis para se ajuizar dos acontecimentos na Líbia e da insaciável gana do imperialismo para brincar com a vida e a dignidade dos povos. Lembremo-nos das mentiras forjadas para que a opinião pública não condenasse a invasão e ocupação do Iraque. Não estaremos perante uma nova encenação sangrenta?

 

 

11 Março 2011

 

Os EUA e a NATO estão a apoiar uma insurreição armada na Líbia Oriental, tendo em vista justificar uma “intervenção humanitária”.

 

Não se trata de um movimento de protesto não violento como no Egipto e na Tunísia. As condições na Líbia são diferentes. A insurreição armada na Líbia Oriental é apoiada directamente por potências estrangeiras. A insurreição em Benghazi, que imediatamente arvorou a bandeira vermelha, negra e verde com o crescente e a estrela: a bandeira da monarquia do rei Idris, simbolo do domínio das antigas potências coloniais. (Ver Manlio Dinucci, Libya-When historical memory is erased, Global Research, Febraury 28, 2011).

 

Conselheiros militares e forças especiais dos EUA e da NATO já estão no terreno. A operação foi planeada para coincidir com o movimento de protesto nos países árabes vizinhos. A opinião pública foi levada a acreditar que o movimento de protesto havia-se espalhado espontaneamente da Tunísia e do Egipto à Líbia.

 

A administração Obama em consulta com os seus aliados está a ajudar uma rebelião armada, nomeadamente uma tentativa de golpe de Estado.

“A administração Obama está pronta a oferecer «qualquer tipo de assistência» aos líbios que tentem derrubar Moammar Kadafi, secretária de Estado Hillary Clinton [27 Fevereiro]. «Temos estado a estender a mão a muito diferentes líbios que estão a tentar organizar-se no Leste e para que a revolução mova-se também em direcção Oeste», disse Clinton. «Penso que é demasiado cedo para dizer como isto vai terminar, mas temos de estar prontos e preparados para oferecer qualquer espécie de assistência que alguém pretenda ter dos Estados Unidos». Há esforços encaminhados para formar um governo provisório na parte Leste do país onde a rebelião começou em meados do mês.

 

Os EUA, disse Clinton, estão a ameaçar mais medidas contra o governo de Kadafi, mas não disse o que eram ou quando poderiam ser anunciadas.

 

Os EUA deveriam «reconhecer algum governo provisório que eles estejam a tentar por de pé…» (McCain)

 

Lieberman falou em termos semelhantes, apelando a um «apoio concreto, a uma zona de interdição de voo, reconhecimento do governo revolucionário, o governo de cidadãos e apoiá-los com assistência humanitária e eu lhes forneceria armas”.
(Clinton: US ready to aid to Libyan opposition - Associated, Press , February 27, 2011, sublinhados do autor)

 

A INVASÃO PLANEADA

 

Uma intervenção militar é agora contemplada pelas forças dos EUA e NATO sob um «mandato humanitário».

 

«Os Estados Unidos estão a movvimentar forças navais e aéreas na região» para «preparar o conjunto completo de opções» na confrontação com a Líbia: o porta-voz do Pentágono, Coronel Dave Lapan dos Fuzileiros Navais, anunciou que «foi o presidente Obama que pediu aos militares para se prepararem para estas opções», porque a situação na Líbia está a ficar pior» (Manlio Dinucci, Preparing for “Operation Libya”: The Pentagon is “Repositioning” its Naval and Air Forces…, Global Research, March 3, 2011, sublinhado do autor).

 

O verdadeiro objectivo da «Operação Líbia» não é estabelecer democracia mas tomar posse das reservas de petróleo líbias, desestabilizar a National Oil Corporation (NOC) e finalmente privatizar a indústria petrolífera do país, nomeadamente transferir o controlo e a propriedade da riqueza petrolífera da Líbia para mãos estrangeiras. A National Oil Corporation (NOC) está classificada entre as 100 principais companhias de petróleo (A Energy Intelligence classifica a NOC no 25º lugar entre as 100 principais companhias do mundo. -Libyaonline.com)

 

A Líbia está entre as maiores economias petrolíferas do mundo com aproximadamente 3,5% das reservas de petróleo globais, mais do que o dobro daquelas dos EUA (para mais pormenores ver a Parte II deste artigo, «Operação Líbia» e a batalha pelo petróleo).

 

A planeada invasão da Líbia, que já está em curso, faz parte do conjunto mais vasto da “Batalha pelo petróleo”. Cerca de 80 por cento das reservas petrolíferas da Líbia estão localizadas na bacia do Golfo de Sirte da Líbia Oriental (Ver mapa abaixo).

 

As concepções estratégicas por trás da «Operação Líbia» recordam empreendimentos militares anteriores dos EUA-NATO na Jugoslávia e no Iraque.

 

Na Jugoslávia, forças dos EUA-NATO desencadearam uma guerra civil. O objectivo era criar divisões políticas e étnicas, as quais finalmente levaram à fragmentação de todo um país. Este objectivo foi alcançado através do financiamento encoberto e do treino de forças paramilitares armadas, primeiro na Bósnia (Bosnian Muslim Army, 1991-95) e a seguir no Kosovo (Kosovo Liberation Army (KLA), 1998-1999). Tanto no Kosovo como na Bósnia, a desinformação dos media (incluindo mentiras rematadas e falsificações) foram utilizadas para apoiar afirmações dos EUA-UE de que o governo de Belgrado havia cometido atrocidades, justificando dessa forma uma intervenção militar com razões humanitárias.

 

Ironicamente, a «Operação Jugoslávia» está agora na boca dos fautores da política externa estado-unidense: o senador Lieberman comparou a situação na Líbia aos acontecimentos nos Balcãs na década de 1990 quando, foi ele que o disse, «os EUA intervieram para travar um genocídio contra os bósnios». «E a primeira coisa que fizemos foi dar-lhes armas para se defenderem. Isso é o que penso que podemos fazer na Líbia» (Clinton: US ready to aid to Libyan opposition - AssociatedPress, February 27, 2011).

 

A estratégia poderá ser pressionar a formação e o reconhecimento de um governo interino da província secessionista, com o objectivo de fragmentar o país.

 

Esta opção já está a caminho. A invasão da Líbia já começou.

 

«Centenas de conselheiros militares estadunidenses, britânicos e franceses chegaram a Cirenáica, a província separatista do Leste… Os conselheiros, incluindo oficiais de inteligência, viajaram em navios de guerra e navios de mísseis até às cidades costeiras de Benghazi e Tobruk” ( DEBKAfile, US military advisers in Cyrenaica, February 25, 2011).

 

Forças especiais dos EUA e dos aliados estão na Líbia Oriental a dar apoio encoberto aos rebeldes. Isto mesmo foi reconhecido quando comandos britânicos das Forças Especiais SAS foram presos na região de Benghazi, onde estavam a actuar como conselheiros militares para forças de oposição:

«Oito comandos de forças especiais britânicas, numa missão secreta para pôr diplomatas britânicos em contacto com destacados oponentes do Coronel Muammar Kadafi na Líbia, foram humilhados depois de terem apoiado forças rebeldes na Líbia Oriental», informa o Sunday Times de hoje.
Os homens, armados mas à paisana, afirmaram que foram verificar «as necessidades da oposição e oferecer ajuda» ( Top UK commandos captured by rebel forces in Libya: Report, Indian Express , March 6, 2011, sublinhado do autor).

 

As forças SAS foram presas quando escoltavam uma «missão diplomática» britânica que entrou ilegalmente no país (sem dúvida de um navio de guerra britânico) para discussões com líderes da rebelião. O Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico reconheceu que «uma pequena grupo de diplomatas britânicos foi enviada à Líbia Oriental para iniciar contactos com a oposição rebelde» (U.K. diplomatic team leaves Libya - World - CBC News, March 6, 2011).

 

Ironicamente, as reportagens não só confirmam a intervenção militar ocidental (incluindo várias centenas de forças especiais), como também reconhecem que a rebelião se opunha firmemente à presença ilegal de tropas estrangeiras sobre o solo líbio:

 

“A intervenção da SAS enfureceu dirigentes líbios da oposição que mandaram encerrar os soldados para uma base militar. Os opositores de Kadafi receiam que ele possa utilizar qualquer sinal de intervenção militar ocidental para conseguir mais apoio patriótico para o seu regime» ( Reuters, March 6, 2011). O «diplomata» britânico que foi capturado com soldados das forças especiais era membro da inteligência britânica, um agente do MI6 numa “missão secreta”. (The Sun, March 7, 2011)

 

Declarações dos EUA e da NATO confirmam que estão a ser fornecidas armas às forças opositoras. Há indicações, embora não haja até agora uma prova clara, que foram fornecidas armas aos insurrectos antes do levantamento. Possivelmente, conselheiros militares e de inteligência dos EUA e da NATO também estavam no terreno antes da insurreição. Este foi o modelo usado no Kosovo: forças especiais apoiando e treinando o Kosovo Liberation Army (KLA) nos meses que precederam a campanha de bombardeamento de 1999 e a invasão da Jugoslávia.

 

O desenvolvimento dos acontecimentos mostram que as forças leais ao governo líbio recuperaram o controlo de posições que pertenciam aos rebeldes:

 

«A grande ofensiva das forças pró-Kadafi lançadas para recuperar o controlo das cidades e dos centros petrolíferos mais importantes da Líbia recuperou o controlo da cidade chave de Zawiya e da maior parte das cidades petrolíferas à volta do Golfo de Sirte. Em Washington e Londres, a conversa da intervenção militar ao lado da oposição líbia foi escondida ao aperceberem-se que as «informações da inteligência no terreno dos dois lados do conflito líbio era demasiado incompleta para servir de base à tomada de decisões” (Debkafile, Qaddafi pushes rebels back. Obama names Libya intel panel , March 5, 2011, sublinhado do autor).

 

O movimento da oposição está fortemente dividido quanto à questão da intervenção estrangeira.

 

A divisão é entre o movimento das bases por um lado e os «líderes» da insurreição armada apoiados pelos EUA, que são a favor de uma intervenção militar estrangeira por «razões humanitárias».

 

A maioria da população líbia, tanto os apoiantes como os opositores do regime, é fortemente oposta a qualquer forma de intervenção externa.

 

DESINFORMAÇÃO DOS MEDIA

Os grandes objectivos estratégicos da invasão não são referidos pelos media. Depois de uma campanha enganadora dos media, em que notícias eram literalmente falsificadas sem qualquer relação com o que realmente estava a acontecer no terreno, um largo sector da opinião pública internacional apoiou firmemente e por razões humanitárias a intervenção estrangeira.

 

A invasão está na mesa de trabalho do Pentágono, e destinada a ser executada independentemente dos desejos do povo da Líbia, incluindo os dos opositores do regime, que têm expressado a sua oposição à intervenção militar estrangeira em desrespeito da soberania do país.

 

POSICIONAMENTO DAS FORÇAS NAVAL E AÉREA

 

A fazer esta intervenção militar, ela seria executada como numa guerra geral, uma blitzkrieg, o que pressupõe o bombardeamento de alvos militares e civis.

 

Sobre isto, o general James Mattis, comandante do U.S. Central Command (USCENTCOM), declarou que o estabelecimento de uma «zona de interdição de voo» implicaria uma campanha de bombardeamento geral, que alvejasse entre outras coisas o sistema de defesa aérea da Líbia.

 

«Seria uma operação militar - não faria sentido dizer às pessoas para não utilizarem aviões. Teria de ser destruída a capacidade de defesa aérea para criar uma zona de interdição de voo. Não haja ilusões quanto a isto»”. (U.S. general warns no-fly zone could lead to all-out war in Libya , Mail Online, March 5, 2011, sublinhado do autor).

 

O Pentágono está a movimentar os seus barcos de guerra para o Mediterrâneo. O porta-aviões USS Enterprise atravessou o Canal de Suez poucos dias após a insurreição (http://www.enterprise.navy.mil).

 

Os navios anfíbios dos EUA, USS Ponce e USS Kearsarge, também tomaram posições no Mediterrâneo.

 

Foram enviados 400 fuzileiros navais dos EUA para a ilha grega de Creta «antes da sua deslocação para navios de guerra ao largo da Líbia” (Operation Libya”:US Marines on Crete for Libyan deployment Times of Malta, March 3, 2011).

 

Entretanto, a Alemanha, França, Grã-Bretanha, Canadá e Itália estão a colocar barcos de guerra ao longo da costa líbia.

 

A Alemanha enviou três navios de guerra a pretexto de assistência à evacuação de refugiados na fronteira Líbia-Tunísia. «A França enviou o Mistral, o seu porta-helicópteros, pois este tipo de meios aéreos, segundo o Ministério da Defesa, contribuirão para a evacuação de milhares de egípcios”. (Towards the Coasts of Libya: US, French and British Warships Enter the Mediterranean, Agenzia Giornalistica Italia, March 3, 2011). O Canadá despachou (2 Março) a fragata HMCS Charlettetown.

 

Entretanto, a US 17th Air Force, chamada US Air Force África, baseada na Ramstein Air Force Base, na Alemanha, está a dar assistência à evacuação de refugiados. As instalações da força aérea EUA-NATO na Grã-Bretanha, Itália, França e Médio Oriente estão prontas para a acção.


* Michel Chossudowsky é Professor da Universidade de Otawa, e amigo e colaborador de odiario.info.

Este texto foi publicado no dia 9 de Março em GlobalResearch.ca:

www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=23548

 

Tradução de António Vieira Simões