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Também de esquerda

Espaço destinado a reflexões (geralmente) inspiradas na actualidade e na Literatura.

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Bashar al-Assad, a raiva, a heroína e as trapaças do Império

Diz-se, em Espanha, Quien a su can quiere matar, rabia le ha de levantar – nada melhor para nos vermos livres do cão indesejado do que dizer que está raivoso. Há também aquela artimanha que consiste em colocar heroína (ou outra droga ilegal) no bolso ou no porta-luvas do carro de alguém que se quer incriminar. Nos filmes, nomeadamente nos policiais, vê-se constantemente o homicida a pôr a arma na mão da vítima, que assim passa a suicida.

 

Posto isto, não haverá cães raivosos, consumidores e traficantes de heroína e suicidas? Há, claro. Conheço algum cão em que o impulso de morte ultrapasse em força o de vida? Não. Acho crível que o corriqueiro fumador de marijuana se divirta a transportar heroína nas barbas da polícia? Improvável. Faz sentido o homicida desfazer-se da arma do crime, colocando-a na mão da vítima? Inteiramente.

 

Ora nós já vimos este filme noutros locais, estranhamente sempre caracterizados por terem um subsolo “interessante”, do ponto de vista da economia e da finança, ou por serem “interessantes”, do ponto de vista geoestratégico. E se o vimos, ouvimos e lemos, como podemos ignorar?

 

Não sei se Assad usou ou não armas de que os EUA e os sócios de Israel e da EU, entre outros, não gostam. Efectivamente, eles apreciam mais o napalm e outras substâncias proibidas (Vietname), o urânio empobrecido (Iraque), a fissão nuclear (Hiroxima e Nagasaki), o bombardeamento cirúrgico (por todo o lado), o assassinato selectivo (Palestina), preferentemente levado a cabo por drones (Afeganistão, Paquistão, Iémen). Mas sei que as armas de destruição maciça do Saddam nunca apareceram e, sem embargo, havia provas irrefutáveis de que existiam. A este respeito, leia-se o interessante artigo que está em http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=677193&tm=7&layout=121&visual=49 e de que se respiga o seguinte: “…em Setembro de 2005, Powell foi entrevistado sobre o tema, quando já era oficial que não existiam, afinal, armas de destruição massiva iraquianas - ou que só tinham existido durante a guerra contra o Irão e só a luz verde transmitida por Donald Rumsfeld a Saddam o decidira a utilizá-las. Na entrevista, concedida à ABC News, Powell admitiu que o discurso perante o Conselho de Segurança ficara como uma "nódoa duradoura" na sua biografia. E acrescentou que fora "doloroso" e "terrível" fazer aquele discurso, e que ficara horrorizado ao saber que as numerosas falsidades em que se baseara no discurso lhe haviam sido fornecidas pelos serviços secretos com plena consciência de que não se tratava de erros, mas de mentiras.”

 

Não sei se Assad usou ou não essas armas que, há uns anos, quando dava jeito, puderam ser usadas contra o Irão, sem daí advir conflito de consciência que se visse. Contudo, até o nosso mordomo das Lajes, depois promovido a Presidente da Comissão Europeia, por serviços relevantes prestados ao Império, garantia a pés juntos que, no Iraque, as havia e que até as vira. E também sei que a Síria é, desde há muito, um território devassado e percorrido por milhares de agentes secretos estrangeiros que têm instruído, financiado e armado os grupos rebeldes. E que, num território assim devassado, deve ser uma brincadeira de criança municiar esses grupos, aliás com ligações conhecidas ao terrorismo internacional (o informal e o de Estado), com todo o tipo de armas.

 

Mais difícil de entender me parece admitir que um chefe de Estado, acossado e sabedor de que os seus poderosos inimigos não lhe perdoarão o uso de determinado tipo de armas, as use. Para quê usar heroína, se o polícia (neste caso, polícia do mundo inteiro) até fecha os olhos ao haxixe? Ou será Assad estúpido?

 

Nã. Aqui, há gato. Ou, melhor, há um cão que, raivoso ou não, tem de ser abatido. Até porque, depois, há que tratar da saúde a outro, que dá pelo nome de Irão e também faz orelhas moucas à voz do dono.