Por uma moção de censura ao Altíssimo
Uma moção de censura oriunda da direita e endereçada a um governo que lá vai revertendo algumas das mais gravosas medidas implementadas nos últimos anos por essa mesma direita não é caso para surpreender ‒ o jogo parlamentar burguês vive destes episódios, que lhe dão colorido, e o governo até se pôs indubitavelmente a jeito. Pôs-se a jeito porque não soube, ou não quis, comprometer metas orçamentais que deixam sempre o nervoso miudinho da tal direita a roer as unhas do infortúnio.
Considerações afins destas, porém, são aos magotes os que as tecem no dia-a-dia dos jornais, das rádios, das tvs e dos blogs. A mim, o que me traz aqui hoje é uma birra de estimação com essa lídima figurinha da direita nacional que é a Dr.ª Assunção Cristas. Em 2012, quando ministra do Ambiente, do Mar, da Agricultura e do Ordenamento Florestal do governo Coelho/Portas, confrontada com a situação de seca que o país atravessava, a senhora dizia que era uma pessoa de fé e que esperaria sempre que chovesse (http://www.tvi24.iol.pt/politica/videos/sou-uma-pessoa-de-fe-esperarei-que-chova). Não sei se Deus ouviu a profissão de fé da Sua humilde serva. Sei, contudo, que, sempre que tais manifestações de confiança na misericórdia divina são correspondidas, se multiplicam as expressões de gratidão para com o Criador: foi graças a Deus, Deus ouviu-nos, Deus é misericordioso; se, porém, Ele se mostra indiferente à sorte das Suas criaturas, os mesmos fiéis que, na anterior circunstância, O louvavam como que esquecem a Sua existência e passam a amaldiçoar a irresponsabilidade de quem, cá em baixo, tem por missão dar-Lhe uma mãozinha sempre que Ele desperdiça uma oportunidade de mostrar a Sua omnipotência. Ou seja, temos um Deus " excelente a dar boas notícias, mas nas horas difíceis, nas horas em que precisamos d’Ele, o Senhor está ausente, o Senhor falha", para citar (adaptando) essa outra figura exemplar da direita pátria, fiel seguidora dos passos de Passos e de montenegra sucessão, que é o jovem e fogoso Dr. Hugo Soares. Assim, se as coisas correm bem, dêmos graças a Deus, nosso misericordioso Senhor; se correm mal, cheguemos a roupa ao pêlo do chefe do governo, nosso incompetente, insensível e soberbo senhor (https://www.dn.pt/lusa/interior/arcensura-psd-acusa-costa-de-incompetencia-soberba-e-insensibilidade-8868925.html).
Em matéria de comportamento divino, esta duplicidade de juízos não é de hoje e, para recordar apenas mais uma ocorrência, já o edificante episódio de Paulo Portas, ao imputar à Senhora de Fátima a prestimosa deslocação do Prestige para as costas da Galiza, em 2013, era de molde a deixar-nos de pé atrás quanto à isenção e probidade destas entidades celestiais. Mas é a irritante condescendência para com o Criador e a sua corte que é de pôr os nervos em franja. Pois vejamos: se Deus está ausente nas horas difíceis em que precisamos d’Ele e se a Senhora de Fátima se está lixando para os galegos (tanto quanto PPC para as eleições), não seria de elementar justiça acusá-los de falta de fibra e de carácter, enfim, de não terem estatura divina (https://www.delas.pt/costa-sem-estatura-fibra-nem-carater/)? E, em última análise, isso não justificaria plenamente a apresentação de uma moção de censura ao Altíssimo?