ELOGIO DA UTOPIA
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Questão delicada, esta do “imperativo categórico”.
Nietzsche, que flagela violentamente Kant, no seu «Anticristo», escreve:
«Uma virtude deve ser nossa invenção, nossa defesa e nossa necessidade pessoais: tomada em qualquer outro sentido não passa de um perigo. Aquilo que não é uma condição vital é prejudicial à vida: uma virtude que não existe senão por causa de um sentimento de respeito pela ideia de “virtude”, como Kant a queria, é perigosa. A “virtude”, o “dever”, o “bem em si”, o bem com o carácter da impersonalidade, do valor geral – quimeras onde se exprime a degenerescência, o último enfraquecimento da vida, a chinesice de Conisberga. As mais profundas leis da conservação e do crescimento exigem o contrário: que cada um invente a sua própria virtude, o seu imperativo categórico.»
E Freud, por sua vez, em «Totem e Tabu» (II, 1):
«Suspeitamos que o tabu dos selvagens polinésios não se acha tão longe de nós como pensávamos inicialmente, que as proibições morais e tradicionais a que obedecemos poderiam ser essencialmente aparentadas a esse tabu primitivo e que o esclarecimento do tabu lançaria luz sobre a obscura origem do nosso próprio “imperativo categórico”.
(«[…] “Tabu” é uma palavra polinésia [que designa] «algo reservado, exprime-se em proibições e restrições, essencialmente.)
«[…] O castigo para a violação de um tabu era originalmente deixado para uma instância interior, de efeito automático. O tabu ferido vinga a si mesmo. Mais tarde, quando surgiram ideias de deuses e espíritos com os quais o tabu ficou associado, esperava-se que a punição viesse automaticamente do poder divino. Em outros casos, provavelmente devido a uma ulterior evolução do conceito, a própria sociedade assumiu a punição dos infractores, cuja conduta pôs em perigo os companheiros. Assim, os mais velhos sistemas penais da humanidade podem remontar ao tabu.»
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Não surpreende que o dionisíaco Nietzsche verbere qualquer tipo de imperativo que escape aos ditames da energia vital, do instinto, e que o faça de forma categórica… De facto, para Nietzsche, o único “imperativo categórico” válido seria o da plena concretização das potencialidades humanas, no total alheamento de qualquer consideração de tipo mítico ou outro e sem submissão a uma ”ordem moral” que considerava, e com razão, uma construção cultural, uma «linguagem de signos, uma semiótica» («O Crepúsculo dos Ídolos»).
De Nietzsche, conhecemos o círculo familiar, o percurso educativo, as relações de amizade, as enfermidades, a toxicodependência, o egocentrismo delirante, o elitismo («Toda a educação superior pertence apenas à excepção: deve ser-se privilegiado para se ter direito a tão elevado privilégio. Todas as coisas grandes, todas as coisas belas não podem jamais ser bem comum» («O Crepúsculo dos Ídolos»), a crença na sua própria divindade («Ecce Homo»), etc. Ele viveu, de facto, num limbo que o distanciou da vida concreta dos seus contemporâneos mais desfavorecidos (como sempre, a esmagadora maioria) e distante do “contacto com a realidade”, pecha que ele imputa à religião e à moral cristãs («Anticristo», 15).
Freud está nos antípodas atitudinais de Nietzsche: sereno, ponderado, avançando com prudência, estribando-se em investigações sérias dos seus predecessores no estudo das sociedades primevas, anunciando o carácter provisório das suas deduções, enunciando os resultados da sua prática psicanalítica sem agressividade verbal, antes desmontando com rigor os mecanismos psíquicos que condicionam fortemente as nossas crenças, as nossas convicções, o nosso comportamento.
Se Nietzsche foi um arrebatado e genial propagandista de um ideário eivado de contradições tais que acabou reivindicado por anarquistas e nazis, Freud foi um profundo e genial analista do nosso psiquismo, tendo dado um contributo incomensurável para a compreensão dos “mistérios” que nos confundem e nos levam, tantas vezes, a dar respostas que não passam de evasivas narcotizantes.
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Enfim – e para voltar ao “imperativo categórico”, à moral e ao dever –, é claro, para quem tem os pés assentes na terra, que a vida em sociedade seria impensável sem restrições à liberdade individual. A liberdade de cada um acaba onde começa a dos outros, e a do todo, em última análise, sobrepõe-se à de cada uma das partes. Em sociedades estruturadas em condições de significativa diferenciação material, não há uma “moral” única. O meu “imperativo categórico”, ditado por uma consciência que é, ela própria, resultante das condições em que me movo, não coincide necessariamente com o do meu vizinho, o que suscita inevitáveis dissensões. Essas dissensões são resolúveis pelo diálogo pacífico, a nível individual. Na história, tese e antítese logram, de longe a longe e por via menos pacífica, uma síntese superior a que chamamos progresso.
Divagações em torno do conceito de belo
O nosso apego ao regular e harmonioso, características geralmente integrantes do conceito de belo, terá a ver com a filogénese?
Se os nossos avós se empenharam em fabricar rudes instrumentos de pedra lascada não o fizeram por serem belos, mas por serem úteis para a sua sobrevivência. As “facas” que fabricaram não eram objectos laboriosamente burilados, com fins estéticos; eram pedras angulosas, mas feriam, laceravam, facilitavam a tarefa de reduzir a pedaços susceptíveis de serem ingeridos os animais que caçavam. Comparadas com os seixos polidos e policromáticos do riacho, eram menos belas, mais desagradáveis ao toque, mas mais úteis. Cumprida essa tarefa urgente de refazer energias, e talvez numa curta pausa digestiva, os seixos ali ao lado terão espoletado, num ou noutro dos nossos avós menos friamente materialistas, uma agradável sensação a que, largos milénios mais tarde, viríamos a chamar emoção estética.
Mas as pedras não foram tudo na nossa filogenia, e, sem querer ofender metade da humanidade – e até um pouco mais, ao que parece –, ocorre-me dizer que a mulher terá sido, para a outra metade da humanidade, um pouco como a “faca” e os seixos do riacho, com a particularidade de juntar a utilidade de uma, ainda que de modo desigual, à agradável sensação provocada pelos outros.
Naqueles tempos remotos, as nossas avós prescindiam dos acessórios que, uns tempos mais tarde, viriam a ser disponibilizados pela Moschino, pela Versace, pela Courrèges ou, para abreviar e descer vários patamares na liquidez da compradora, pela corriqueira Zara. Dispunham de assaz densa pelagem, capaz de rivalizar com os mais caros casacos de peles daquelas ou de outras marcas (que, em tal matéria, o autor é mais ignorante ainda do que em matéria de filogenia), quanto mais com um casaco matelassê de punhos canelados da Canada Goose (passem todas estas publicidades desinteressadas). Ora, se com uma calça jeans da Agolde os netos dos nossos avós se dão imediatamente conta da indizível harmonia que jaz sob a ganga azul deslavada, sendo, acto contínuo, acometidos de agradável emoção estética, os avós dos netos de hoje, ao vislumbrarem as formas arredondadas das nossas avós, inevitavelmente as associavam a perspectivas prazerosas, com o que a persistente impressão neles deixada pelo redondo, pelo simétrico, pelo aveludado, se terá “instalado” definitivamente em nossos genes, à maneira do instinto que, no animal, é herdado à nascença, dispensando aprendizagem.
Esta divagação sofre, evidentemente, de um defeito importante (a adicionar a todos os outros): é eminentemente sexista, no sentido em que veicula uma visão masculina e heterossexual. Que pensará disto uma mulher, um ou uma homossexual? Ter-se-á o conceito de beleza consolidado, sobretudo, a partir da experiência existencial masculina? Difícil de aceitar. Certo é que a homossexualidade estava presente na horda primitiva (as circunstâncias que precederam o célebre parricídio “de” Freud tê-la-ão favorecido), e não é menos certo que a harmonia corporal poderia ser igualmente identificada com o prazer sexual, em sentido distinto do que descrevi antes, por nossos avós de ambos os sexos, nos corpos de seus companheiros e companheiras. (Com pedido de perdão por mais um parêntesis sobre a sexualidade, se Freud menciona explicitamente a relação homossexual, Engels, em Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, escreve: «Morgan, ao reconstituir assim a história da família, recua, de acordo com a maior parte dos seus colegas, até um estado de coisas primitivo em que relações sexuais sem peias reinavam no interior de uma tribo, de tal modo que cada mulher pertencia a cada homem e cada um dos homens a cada uma das mulheres.»)
Continuando, julgo ter algumas vezes ouvido dizer que a mulher, mais do que a beleza física, valoriza, no homem, a inteligência, a cultura, a verve (galicismo de significado bem conhecido, contrariamente ao latiníssimo “facúndia”). Tal pretensão padece de uma ambiguidade: pode indiciar que a mulher tem a superior aptidão de ajuizar do outro a partir de indícios mais subtis do que o arredondado das formas físicas, tão facilmente capturável pela simples observação, mas pode igualmente insinuar que os atributos da tal verve e sobretudo os da inteligência, foram mais generosamente distribuídos entre os humanos do sexo masculino, levando as humanas vantagem naquilo que, supostamente, não exige grande esforço ou particular aptidão.
Também me parece ter ouvido algumas vezes que é a força viril espelhada na musculatura que empolga a mulher. O belo, neste caso, será novamente a harmonia corporal.
Tem tudo isto fundamento e condicionantes genéticas? Se tem, é claro que tudo foi matizado por factores culturais e que essas condicionantes foram amenizadas e, no limite, contrariadas: até o homem mais sensível à beleza feminina se poderá deixar seduzir (…) pelo brilhantismo, pela verve, pela inteligência, de uma mulher insusceptível de ser enquadrada nos padrões de beleza feminina do nosso tempo.
Mas isto são divagações que, de científico, poderão ter um poucochinho mais do que a teoria geocêntrica. Só um poucochinho.
Aníbal Cavaco Silva, que, na longa noite que antecedeu a madrugada libertadora de Abril, se notabilizou pela inquebrantável coragem com que combateu a ditadura fascista, publica hoje, no Expresso, um admirável artigo em que,”sem margem para dúvidas”, seu timbre de sempre, denuncia a “estagnação económica e o empobrecimento” a que nos têm conduzido sucessivos Governos socialistas”, dos quais os últimos contaram com o indesejável apoio dos partidos de “extrema-esquerda”. Com efeito, “o combate à pobreza nunca foi uma prioridade efectiva do Partido Comunista e do Bloco de esquerda”.
Prevê o insigne Professor que, a seguirmos neste rumo suicidário, rapidamente sejamos ultrapassados por democracias tais como a Polónia e a Hungria, entre outras vítimas “de décadas de sujeição ao estatismo comunista”, mas, sobretudo, lamenta os “salários baixos, salários insuficientes para reter jovens com ambição de subir na vida, […], desigualdades sociais e elevado nível de pobreza, cuidados de saúde de baixa qualidade para quem não dispõe de recursos para acesso à medicina privada e degradação do ensino público.” Tudo realidades imensamente distantes dos elevados padrões de qualidade a que nos habituara durante a vigência dos seus governos e que lhe valeram a veneração dos trabalhadores portugueses, em geral, e dos bancos, em particular, bancos esses que, sem o precioso concurso do estadista e dos continuadores da sua obra, v.g., Passos Coelho, Maria Luís, Paulo Portas, Assunção Cristas, entre outros, se viram impossibilitados de levar a cabo a sua missão humanitária, uma vez que “não dispunham de recursos para financiar as empresas e as famílias”, não obstante disporem deles para fins que o autor não refere – por falta de espaço ou lapso de memória.
A calamitosa situação atrás descrita foi, em boa hora, invertida pelo governo Passos/Portas já referido. A benéfica inspiração recebida do autor do artigo explica que este Governo se tenha distinguido, como é do conhecimento público e todos os Portugueses recordam, pela “criação de emprego”, bem como pela “reposição de salários e pensões atingidos pela situação de emergência financeira herdada do Governo socialista”.
O estadista verbera, depois, o clima de pavor instalado na sociedade portuguesa: medo de criticar o Governo, medo de perder o emprego, medo da privatização dos transportes públicos e consequente medo dos seus trabalhadores, sempre que pensassem em greves desestabilizadoras da tranquilidade social. Enfim, no seu conjunto, o retrato de uma “democracia deficitária, com falhas, claustrofóbica, amordaçada.”
Malgrado o que alguns mal-intencionados críticos lhe apontaram, em tempos, como défice cultural (o número de cantos dos Lusíadas era então matéria para a qual a esposa estaria mais habilitada a responder), decorre da leitura do artigo que ACS enriqueceu a sua bagagem, neste domínio, com o conhecimento do princípio de Peter: «Para algumas pessoas, de coluna vertebral mais frágil, o encosto ao Governo socialista é visto como a melhor posição para subirem além do princípio de Peter.» Documentável também, no artigo, é uma insuspeitada atracção pelo género policial: «Filmes policiais têm mostrado como uma pessoa amordaçada consegue emitir gritos de socorro.»
O comentador conseguiu, graças à leitura do precioso artigo, emitir vibrantes gargalhadas. Agora, sonha com uma mordaça, ou rolha, estopa ou qualquer outro meio de calafetagem que o ponha a salvo dos dislates professorais, pelo menos enquanto humoristas bem mais qualificados nos proporcionarem momentos de boa disposição.
Ser estruturalmente anti-agnóstico pode significar acreditar em "Deus", sendo-se ateu, e, até, ser ateu graças a "Deus".
Explicando: o homem é capaz de tudo, e disso tem dado bastas provas. Ninguém imaginava, tirando uns raros visionários, que pudéssemos um dia fazer aquilo que hoje se tornou comum e muito menos aquilo que está em vias de se tornar comum ou que vai acabar por sê-lo. Exemplos?! Seria um nunca mais acabar! E, no entanto, o homem conseguiu-o. Donde a crença do anti-agnóstico no Homem – criador omnisciente e omnipotente, matéria nascida da matéria, realidade criadora de mitos. Ora o reconhecimento desta ilimitada capacidade da razão humana leva o anti-agnóstico a inferir a potencial reversão de todo o desconhecido. O mistério tem os dias contados, mesmo que esses dias valham anos ou séculos. É uma questão de tempo para que todas as utopias se tornem realidades.
Assim, ao anti-agnóstico, o agnosticismo afigura-se-lhe uma declaração de desistência, de demissão, ou de falta de coragem. O agnóstico acredita na força da razão humana até certo ponto; chegado aí, deixa-se impressionar por fenómenos inexplicáveis, no estado actual da ciência, ou insusceptíveis de explicação científica, pura e simplesmente por serem falsidades – está-se perante um agnóstico demissionário. Outro agnóstico é o timorato, aquele a quem a coragem falece: na dúvida, ele abstém-se de afirmar o primado da razão, não vá ser punido por um ser que só a irracionalidade da fé pode conceber. Assim, o agnóstico vacila – entre a razão e a fé. E, ao vacilar, claudica. E, ao claudicar, perde a oportunidade de reivindicar a quota-parte de divindade que cabe a cada ser humano. Ou, pelo menos, restringe a sua parcela pessoal dessa divindade – entendida como capacidade ilimitada de desvendar o desconhecido. A curto, a médio, ou a longo prazo.
Onde, no parágrafo precedente, se alude à “irracionalidade da fé”, longe do intuito de insultar os crentes, define-se a natureza da crença que prescinde da intervenção da razão – significado primeiro de “irracionalidade” –, o que constitui motivo suficiente para o anti-agnóstico ateu imputar ao imaginário Deus o seu ateísmo: ele é ateu graças ao que considera ser uma ideia de Deus que dispensa a razão, ou, em versão encurtada, graças a Deus. E o anti-agnóstico ateu não o faz gratuitamente; antes se respalda na lição de um Padre da Igreja: a asserção “Credo quia absurdum” é atribuída a Tertuliano (a sua obra aponta nesse sentido) e significa que a fé, ao contrário da ciência, não é do domínio da razão; ignora a razão e até a contraria: “acredito porque é absurdo!” O ateu, reconhecido, bendiz a franqueza do Padre e recomenda-o aos agnósticos, para que se determinem: razão e irrazoabilidade gozam de idêntico estatuto? A metafísica é mais do que o reino do absurdo?
No fundo, o agnóstico censura ao homem a sua insuficiência, exige-lhe a omnisciência integrante do conceito de Deus. Não aquela omnisciência relativa (passe a contradição) a que se alude mais acima e que vai sendo paulatinamente conquistada, com avanços, hesitações e recuos. Não. O agnóstico parece partir do pressuposto inexpresso de que é imprescindível a existência de um ser que disponha duma omnisciência propriamente dita, isto é (passe o pleonasmo), duma omnisciência total e absoluta, o que equivale a dizer que o agnóstico é um crente que não se assume frontalmente, mas que o faz nas entrelinhas, e que o agnosticismo é uma crença idealista rendida ao poder do absurdo e disfarçada de rigor epistemológico.
De cada vez que a ciência dá um novo passo, desbravando o desconhecido, o agnóstico sente-o como uma devassa, uma ameaça, uma derrota. Talvez não o agnóstico displicente, que, confortavelmente instalado na sua crença num incognoscível inexpugnável, pouco se importará com o progressivo aluimento do desconhecido. Mas seguramente o agnóstico militante, aquele que faz da sua crença na metafísica um postulado equiparável às leis naturais. Para este, as vitórias da ciência constituem, no mínimo, um incómodo irritante; em casos mais sérios, um abalo telúrico. À maneira do mostrengo que está no fim do mar, interrogam-se «Quem é que ousou entrar / nas minhas cavernas que não desvendo / meus tectos negros do fim do mundo?». Ao que o homem do leme, ignorando de todo o Senhor Dom João Segundo, responde que preza o sonho e não desdenha a fantasia, mas os sabe pôr no seu devido lugar.
Não se pense, contudo, que os agnósticos de hoje são os de todos os tempos. Não. Quando Galileu teve de abjurar, um agnóstico de que a História não regista o nome ter-lhe-á dito: «A Igreja sabe, desde sempre, que o Sol gira em torno da Terra; tu e, antes de ti, o teu antecessor Copérnico afirmais que é, pelo contrário, a Terra que gira em torno do Sol; sois todos crentes nas vossas crenças, e eu não tenho meios para destrinçar. Isso do funcionamento do universo está muito para além da física!» Ao que Galileu terá retorquido com uma frase já sussurrada antes, ao sair do Santo Ofício, e que toda a gente conhece. Hoje, o agnóstico sabe que a Terra gira em torno do Sol, mas há ainda um sem-número de mistérios insondáveis que ele encara com pavor. Até porque o Santo Ofício foi extinto fisicamente, mas continua bem presente dentro de nós. Que o diga aquele santo austríaco, padroeiro dos ateus e tão pouco agnóstico, que escreveu isto: «muito facilmente o nosso intelecto erra sem disso se aperceber, e […] nada há em que acreditemos mais facilmente que naquilo que, sem atender à verdade, vem ao encontro das nossas ilusões e desejos.» (Freud, Moisés e o Monoteísmo).