DEPOIS DE LER , textos de análise e crítica literária; notas de leitura
Uma palavra sobre o porquê deste volume, onde reuni os textos de análise e crítica literária por mim publicados no blogue Também de Esquerda, do Sapo, entre Novembro de 2009 e a presente data.
Os textos publicados em formato digital poderão não estar mais sujeitos ao esquecimento definitivo do que qualquer outra criação humana e, a fortiore, do que uma criação de limitado interesse, da autoria de irrelevante humano. Apesar dessa irrelevância, ou talvez por sua causa, o humano que dela padece não se conforma, e busca, por meio do suporte material, assegurar a sua modesta parcela de imortalidade, entendida como permanência intermitente de vestígios do seu pensamento na sede (acepção de “lugar”) do pensamento dos seus descendentes, ou pelo menos de alguns deles, por uma, duas – quem sabe? três – gerações. Ambição modesta? Ambição desmedida, que o futuro aferirá e, sobretudo, ilusão bastante de cujo alimento o presente carece.
Uma palavra ainda sobre a experiência do autor nas lides da crítica literária.
Foram o costume de sublinhar e anotar o que leio e os hábitos relacionados com a leccionação da literatura no ensino secundário que acabaram por me levar a imprimir um carácter mais sistemático e elaborado ao que ia fazendo de forma mais despreocupada, pelo menos em termos formais. A aposentação, com a disponibilidade temporal daí resultante, e a leitura assídua de crítica literária, contribuíram depois, decisivamente, para fazer desta actividade uma ocupação estimulante.
Estimulante também foi o acolhimento grato que estes textos receberam de alguns escritores algarvios, ou residentes no Algarve, que admiro e que considero como amigos, contando-se pelos dedos de uma mão aqueles que, menos agradados com o que leram, mo fizeram sentir de diferentes maneiras. Dentre eles, destaco dois, pela surpresa que me causaram: um que se remeteu a um silêncio magoado, outro que verteu uma torrente de rancor numa rede social, rancor justificado pela incapacidade do crítico para compreender a grandeza da sua obra, muito embora lhe reconhecesse inegável competência para compreender e julgar, com igual rigor, a dos outros. Se aos primeiros devo a satisfação de ver o meu trabalho reconhecido e validado, aos últimos devo, pelo menos, o reconhecimento ofendido da minha isenção crítica.
De facto, entendo este exercício como algo de substantivamente diferente do discurso promocional, da nota publicitária. O investimento em tempo e em (algum) conhecimento científico que a análise crítica literária implica não se compadece com a ligeireza do favor. Muito menos a honestidade intelectual.
Feita a advertência, eis o rol de contemplados:
Adão Contreiras, Adília César, Agustina Bessa Luís, Alberto Manguel, Alexandra Lucas Coelho, Alves Redol, Andréa del Fuego, Antero de Quental, António Lobo Antunes, António Manuel Venda, António Murteira, Carina Infante do Carmo, Carlos Brito, Carlos Campaniço, Carlos Luís Figueira, Domingos Lobo, Eduardo Galeano, Fernando Cabrita, Fernando Esteves Pinto, Fernando Pessanha, Gabriel García Márquez, Gil Vicente, Gilles Lipovetsky, Goethe (Johann W. Von...), Gonçalo M. Tavares, João Ricardo Pedro, João Viegas Fernandes, José Estêvão Cruz, José Luís Peixoto, José Saramago, Julieta Lima, Luís Ene (Nogueira), Luís Sepúlveda, Manuel Dias Duarte, Manuel Madeira, Manuel Pinto Ribeiro, Manuel Teixeira-Gomes, Marguerite Yourcenar, Mário Dionísio, Mário Vargas Llosa, Mia Couto, Michel Houellebecq, Mircea Eliade, Noémio Ramos, Paulo Kellerman, Patrick Modiano, Paul Lafargue, Paulo Moreira, Pedro Afonso, Pedro Jubilot, Philip Roth, Rosa Melo, Roy Lewis, Serge Latouche, Somerset Maugham, Thomas Mann, Urbano Tavares Rodrigues, Valter Hugo Mãe, Vasco Graça Moura, Vítor Gil Cardeira, Vladimir Nabokov, Woody Allen (uma excepção, neste volume consagrado aos livros).