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Também de esquerda

Espaço destinado a reflexões (geralmente) inspiradas na actualidade e na Literatura.

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Mais depressa se apanha a NATO do que um coxo

Leio a notícia de que “72 imigrantes africanos foram deixados no mar Mediterrâneo para morrer (...)” (“Sol” e sapo.pt de hoje) e digo para comigo que a NATO não vai deixar passar impune mais este atentado ao mais fundamental de todos os direitos humanos. Que ponham as barbas de molho os autores da infâmia. A Aliança – que não é Santa, mas que a Congregação para a Doutrina da Fé não deixará, no mínimo, de beatificar, logo que a situação do João Paulo esteja solidificada – não deixará de honrar o seu lema GNérrico à escala global (pela lei e pela grei, pois claro), exercendo mais uma vez o direito de ingerência humanitária. E nós veremos, para nosso consolo de almas bem formadas, erguer-se de novo nos céus ímpios de uma qualquer grei de infiéis o gládio inclemente dos benfeitores da humanidade. Talvez haja que aguardar com paciência pelo derrube do grão-tinhoso que ainda se pavoneia por Tripoli, mas o dia virá em que a infâmia será vingada.

Ai, não. Leio o resto do primeiro parágrafo e pasmo de surpresa: “(...) depois de a guarda costeira italiana e a NATO terem ignorado os seus pedidos de ajuda”. Assim se esvai, enquanto o diabo esfrega um olho, a confiança inabalável (até então) de um honesto cidadão nas instituições que zelam pela paz e segurança do mundo livre.

Para que não se julgue ser o texto supra mera ficção, segue a transcrição da notícia na íntegra:

 

 

Imigrantes africanos deixados para morrer no mar pela NATO

9 de Maio 2011

 

 

72 imigrantes africanos foram deixados no mar Mediterrâneo para morrer depois da guarda costeira italiana e a NATO terem ignorado os seus pedidos de ajuda.

O britânico The Guardian avança numa peça exclusiva que no final de Março, o barco que transportava mulheres, crianças e refugiados políticos, terá ficado sem gasóleo depois de ter deixado Tripoli rumo à ilha italiana de Lampedusa.

Dos 72 passageiros que se encontravam no barco, 11 morreram de sede e fome ainda antes do barco ter começado a andar à deriva no mar alto por 16 dias.

Um dos nove sobreviventes conta que: «Todas as manhãs acordávamos e encontrávamos mais corpos, que 24 horas depois éramos obrigados a mandar borda fora». O mesmo homem explica o tormento dos últimos dias, nos quais já mal se reconheciam uns aos outros, «enquanto uns rezavam outros morriam».

Apesar de ter sido estabelecido contacto com a guarda costeira italiana e com um helicóptero e navio de guerra da NATO, nenhuma tentativa de salvamento foi levada a cabo.

De acordo com a lei internacional é obrigatório a todos os navios, incluindo os militares, responderem chamadas de ajuda de barcos que devem auxiliar sempre que possível.

Os activistas dos direitos dos refugiados exigiram já que estas mortes sejam investigadas e a agência das Nações Unidas para os refugiados (UNHCR) pediu uma maior cooperação dos navios militares no Mediterrâneo e um esforço maior para salvar vidas.

Este ano os conflitos no norte de África provocaram um aumento da quantidade de pessoas a tentarem chegar à Europa por mar. Nos últimos quatro meses acredita-se que 30 mil emigrantes tenham feito essa viagem, sendo que desses cerca de 800 não terão completado a viagem.

SOL / sapo.pt