Meia-Noite em Paris, de Woody Allen
“Meia-Noite em Paris” é um conto de fadas que nos revela um Woody Allen igual a si mesmo, isto é, genial. Owen Wilson tem, no papel de Gil Pender, um desempenho brilhante e, se descontarmos a juventude e uma compleição física mais atlética, dir-se-ia que Allen encontrou nele algo como um sósia, até nos tiques da elocução. Sósia, no domínio da aparência física, mas também, seguramente, um alter-ego, na medida em que não podemos deixar de ver na aventura vivida pelo jovem guionista e candidato a romancista a ávida demanda cultural que o realizador sempre protagonizou. Demanda que nos leva do Paris de 2010 ao dos anos 20 do século passado e ao encontro de Francis Scott e Zelda Fitzgerald, de Hemingway, de Cole Porter, de Pablo Picaso, de Luis Buñuel, de Gertrude Stein, de Salvador Dalí, num clima feérico e de efervescência cultural; depois, em nova viagem ao passado, até ao final do século XIX, à Belle Époque do french cancan e do impressionismo, onde Gil Pender se cruzará com Toulouse-Lautrec, Gauguin, Degas…
A cada encontro com estes vultos da literatura, da música, da pintura, do cinema, sempre o mesmo deslumbramento do protagonista. Sempre, também, a emoção partilhada pelo espectador. Porque, se Woody Allen leva a sua personagem ao encontro deles no passado, é só para os colocar a todos na nossa presença, no nosso presente, recordando-nos como estão vivos.