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Também de esquerda

Espaço destinado a reflexões (geralmente) inspiradas na actualidade e na Literatura.

Também de esquerda

Espaço destinado a reflexões (geralmente) inspiradas na actualidade e na Literatura.

O Professor Simão Botelho, de Manuel Dias Duarte

 

 Uma boa história… com gralhas

 

 

Lê-se com agrado o bem construído romance de Manuel Dias Duarte (MDD), história de um amor de perdição, como aquele em que se consomem o Simão Botelho, a Teresa e a Mariana, de Camilo. Como no romance do mestre, aqui há também uma Mariana, que é até a mulher de Simão, professora como ele, e uma Teresa de Albuquerque, morta de parto alguns anos antes. Mas é Margarida, a jovem aluna de Simão, quem corporiza a paixão proibida e subversora dos códigos sociais, que o autor, aliás, se compraz a debater, por interpostas personagens. É assim que se põe a nu o papel determinante da infraestrutura económica na génese dos princípios que norteiam a consciência social, cunham tabus e modelam comportamentos, ou simplesmente nas diferentes formas de família, conforme demonstrou Engels, em A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado.

Para quem cumpriu a sua vida profissional numa escola e, por isso, conhece os cantos à casa – obrigações a cumprir, relacionamentos diversos, constrangimentos legais, rituais de convivência – resulta óbvio que MDD sabe muito bem do que fala. E aquilo de que fala é a escola secundária portuguesa do imediato pós-25 de Abril, o PREC, quando todas as paixões surdiam da caixa de Pandora aberta pela Revolução. É assim que as referências sindicais surgem aqui a cada passo, que a eleição do Conselho Directivo, tanto quanto acto profissional, é acção política, que os professores se empenham revolucionariamente na formação dos seus alunos, acompanhando-os em visitas de estudo, com prejuízo para a sua vida pessoal e familiar e que… uma aluna, adepta fervorosa da libertação da mulher, não vê inconveniente em apaixonar-se pelo professor.

Se a leitura do romance de MDD é fonte de prazer, não posso deixar de dizer que esse prazer é, com alguma frequência, prejudicado pela ocorrência de gralhas que afectam a pontuação, a sintaxe e a própria semântica do texto, ainda que – devo também reconhecê-lo –, por deformação profissional, a minha atenção a pormenores de expressão seja porventura exagerada.