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Também de esquerda

Espaço destinado a reflexões (geralmente) inspiradas na actualidade e na Literatura.

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A comunicação do poder com a plebe

Há perto de um ano, no post que intitulei “Falhas de comunicação e revisionismo histórico”, ironizava eu sobre a moda (que persiste), na comunicação social, de se assacar às deficiências de comunicação do poder o descontentamento popular. E o poder até parece ter concordado com essas críticas (sempre construtivas, de resto) dos comentadores, ou não tivesse posto o escriturário Lomba a perorar para a plebe ignara, em briefings-de-trazer-por-casa. Em suma, seria como se o povo roubado só se queixasse por não ter sido devidamente elucidado quanto à bondade do roubo, quando estes serventuários do capital financeiro – Coelho, Portas e toda a sua coorte de apaniguados – o espoliam. Ora, uma vez que o roubo, furto ou latrocínio – chame-se-lhe “poupança”, “medida de contenção” ou outra léria qualquer – mantém a sua natureza de extorsão, forçoso é admitir que aquilo que os comentadores políticos de serviço e a imprensa dita “de referência” lamentam, compungidos, é a inépcia na “arte” da mistificação. É como se o Marcelo, esse crente tão temente a Deus e confiante na vida eterna (e que um dia destes nos sai na rifa da sucessão presidentícia), assumisse, por uma vez, sem hipocrisia, o cinismo próprio da burguesia exploradora e arengasse os seus amigos do poder:

- Vede como faz a Igreja, as Igrejas! Aprendei a ser, se não um ópio tão eficaz como a religião, pelo menos um sucedâneo da erva. E vereis quão cordos e pacíficos eles quedarão, confiantes no Céu e na retoma.

Porém, é aqui que eu tenho alguma dificuldade em acompanhar os cavalheiros. É que, contrariamente a eles, acho que a homilia do poder é mesmo convincente e tão eficaz como a de qualquer sacerdote. Só assim se entende que, apesar das manifestações de descontentamento de muitos milhares, persista uma maioria silenciosa que acata sem (quase) tugir nem mugir as malfeitorias que lhe são infligidas, e que se dispõe sistematicamente, sufrágio após sufrágio, a dar de bandeja o poder àqueles que lhe espetaram as bandarilhas na véspera. Ou na antevéspera, como manda a alternância democrática.

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