Conselho de Administração
O Público de hoje publica vários textos sobre Ricardo Salgado, a família Espírito Santo e o Banco do mesmo nome. Dois grandes infogramas acompanham estes textos. Creio que não haverá neste material nada de verdadeiramente novo para quem acompanha de perto a actualidade nacional. É contudo positivo que nos recordem alguns facto
s que o tempo vai obliterando. Por exemplo, que a intimidade entre esta grande família e o fascismo ia ao ponto de Ricardo Espírito Santo, avô de Ricardo Salgado, se encontrar com Salazar ao domingo à noite, para com ele conversar sobre temas económicos e empresariais, e que a família tinha “ligações” aos nazis. Mais interessante, talvez, e sobretudo mais actual é o conteúdo do infograma das páginas 4 e 5, cujo título é “Os amigos e ex-colaboradores do Grupo Espírito Santo com ligações à actividade política”. Aí aparecem, quais astros menores, em torno da estrela de primeira grandeza que é Ricardo Salgado – Ângelo Correia, Manuel Pinho, Nuno Vasconcellos, António Mexia, Durão Barroso e Freitas do Amaral. O infograma tem a vantagem didáctica de tornar ainda mais evidente a enorme permeabilidade das esferas dos poderes político e económico. Independentemente do partido a que pertencem (PSD, PS ou CDS), estas personagens transitam de um poder para outro e deste outro para o primeiro com a mesma facilidade com que um prestidigitador nos leva a ver apenas aquilo que ele quer que vejamos. E é também como ilusionistas que conseguem criar a ilusão de que os governos que integram, em alternância com os conselhos de administração das grandes empresas e dos bancos, são instâncias vocacionadas para a prossecução do bem comum. Como se eles não soubessem, ainda melhor do que Marx, que tais governos não passam de meros conselhos de administração dos interesses da burguesia.

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