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Também de esquerda

Espaço destinado a reflexões (geralmente) inspiradas na actualidade e na Literatura.

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Os vícios do regime

“Pois. Vivemos nesta apagada e vil tristeza a que nos condenaram os arautos do neoliberalismo; o pensamento único venceu, para já, a batalha ideológica; (quase) toda a gente pensa que não há volta a dar-lhe; admite-se sem tugir nem mugir que a História chegou ao fim; dá-se por certo que esta globalização é o supra-sumo da civilização; penaliza-se eleitoralmente o partido (de direita ou dito de esquerda) que acaba de nos lesar e vota-se alegremente no partido (dito de esquerda ou de direita) que nos lesou anteriormente (mas quem se lembra disso?!), enquanto aguardamos pela próxima oportunidade de votarmos naqueles que desta vez penalizámos. Entretanto, o PDE (Partido Dito de Esquerda) faz a mesma política que o PD (Partido de Direita), quando não ainda mais à direita, e os arautos do pensamento único vêm dizer-nos que a distinção entre direita e esquerda já não faz sentido hoje em dia. É um pouco como se os ladrões se fizessem apelidar de Homens Honestos e, na sequência disso, nos puséssemos a dizer que já não faz sentido distinguir a honestidade da desonestidade. No meio de toda esta balbúrdia promíscua a que se convencionou chamar Estado de direito democrático, que um ministro da justiça (minúscula) empregue a filha no ministério, ou que um (anterior) ministro dos Negócios Estrangeiros (convém que os negócios, nacionais ou estrangeiros, sejam sempre maiúsculos) negoceie a entrada da filha na Universidade, são minudências em que não devemos deter-nos. Aliás, são mesmo insignificâncias, quando muito indiciadoras de critérios morais discutíveis, pois os verdadeiros vícios do regime e do sistema, que fazem com que milhões sofram para que milhares gozem, são outros – estruturais –, e àqueles que os denunciam o pensamento único chama de utópicos (sinónimo de lunáticos, ou mesmo de parvos, no léxico dos cavalheiros). Até quando isto vai durar, ninguém sabe. Mas a História é useira e vezeira em surpreender-nos. Quando isso acontecer, os mais surpresos vão seguramente ser aqueles que a dizem chegada ao fim.”
 
Quando, em 22 de Maio de 2006, escrevi o que antecede, estávamos em plena maioria absoluta do Partido dito Socialista, ainda eu não tinha este blog(ue), e aquilo que ia acontecendo levava-me a crer que tínhamos batido no fundo. Ingenuidade! Aquilo que, desde então, tem vindo ao conhecimento público e, sobretudo, a certeza absoluta de que, apesar do tamanho que ostenta, tudo isto não passa da ponta do iceberg, dizem-me que não há limites para a descida aos infernos da infâmia.

 

Imagem:

Tartufo
por wilber.elsalvador

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