Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Também de esquerda

Espaço destinado a reflexões (geralmente) inspiradas na actualidade e na Literatura.

Também de esquerda

Espaço destinado a reflexões (geralmente) inspiradas na actualidade e na Literatura.

A CIGARRA E A FORMIGA em versão solidária

A Cigarra e a Formiga.jpg

Tendo a Cigarra cantado
o tempo que o Verão durou,
maldisse o seu triste fado
quando a invernia chegou.
Não tinha nem um pedaço
de mosquinha ou de minhoca,
– E agora, o que é que eu faço?,
perguntou da sua toca.
Foi, então, bater à porta
da camarada Formiga,
que encontrou quase morta,
tal era a sua fadiga.
Quis pedir-lhe um grão que fosse
para não morrer de fome;
antecipa-se a voz doce
da Formiga, que diz “Tome!”
E, não contente com isto,
volta-se para a Cigarra
e sussurra-lhe: – Desisto.
Agora, o que eu quero é farra!
Pega lá nessa viola,
enche-me este coração,
e não tomes por esmola
o que é obrigação.
É que se amealhar
sempre dá um certo jeito
não vale menos cantar
– cada coisa o seu proveito.
Eu recolho para comer,
mas a vida é mais do que isso
e é preciso lazer,
para se manter o viço.
Como me falta o talento
que em ti sobeja, cigarra,
és tu que me dás alento,
tu e a tua guitarra.
Ficou assim demonstrado
que o trabalho faz sentido,
quando não exagerado
e quando é repartido.
O que a Cigarra fazia
nada mais era, afinal,
do que uma mais-valia,
mais-valia emocional.

(Versões desta fábula deve haver dezenas, se não centenas. É só mais uma. A imagem é da Wikipédia)

21/01/2020