Eleições e varas tortas
Seria temerário e, talvez, redutor dizer que, exceptuando Edgar Silva, os candidatos à presidência da república são todos iguais. Na sua esmagadora maioria eles poderiam, provavelmente, receber um rótulo tão abrangente quanto o é o de “social-democrata”, desde que esta área do pensamento e da práxis política se permeabilizou de tal modo aos ditames do neo-liberalismo que é hoje difícil destrinçar um “socialista” ou um “social-democrata” de um representante da direita liberal. Apesar disso, existem entre eles diferenças de sensibilidade perante as magnas questões da justiça social, e as suas agendas político-sociais apresentam igualmente especificidades que reflectem a complexidade do mundo em que vivemos. E, contudo, pôr a tónica nessas diferenças, estratégia própria de qualquer contendor empenhado nas campanhas eleitorais, conduz geralmente à obliteração do essencial, que é aquilo que esses candidatos têm em comum, a saber: o objectivo de reformar e de gerir o sistema, mal-grado as suas injustiças e desmandos. Neste contexto, dizer que se é a esquerda da direita ou a direita da esquerda pode significar alguma coisa, em termos de posicionamento circunstancial, mas pouco significa em termos substanciais.
Entende-se, assim, a excepção feita a Edgar Silva. Como todos os outros, ele está obrigado a cumprir e a fazer cumprir a Constituição, no caso (improvável) de ser eleito. Não só improvável como, sobretudo, inviável, nas actuais condições, seria a tentativa de alterar o statu quo, no sentido de “abrir caminho para uma sociedade socialista”, conforme preconiza o Preâmbulo da lei fundamental. Contudo, de todos eles, Edgar Silva é o único que perfilha princípios segundo os quais o capitalismo não é reformável. Marisa Matias, a simpática candidata do Bloco de Esquerda, sempre apresentado como partido da extrema-esquerda ou da esquerda radical, é tão reformista quanto os outros.
Ora a premissa da perspectiva transformadora (a da verdadeira radicalidade) afigura-se-me imprescindível para o exercício de uma magistratura que vise uma efectiva consecução da justiça social e não a implementação de paliativos que, sendo importantes para quem deles beneficia – como, de resto, acontece com a filantropia – não curam as chagas da incultura, da desigualdade, da injustiça, do desemprego, da pobreza, da corrupção.
Nestas circunstâncias, por estas razões e por convicção, votarei Edgar Silva no próximo dia 24. Numa eventual segunda volta, espero poder votar no candidato que mais garantias dá de cumprir e fazer cumprir a Constituição ‒ Sampaio da Nóvoa. Bem ciente do baldado intento de endireitar a sombra à vara torta.