Entre a onomatopeia e o oxímoro, venha o diabo e escolha
A televisão, com a inestimável ajuda dos comentadores residentes, tem-se esforçado por nos fazer compreender que a escolha de 4 de Outubro tem como únicas referências uma coligação cuja sigla é PàF e um partido cujo símbolo é a rosa. A sigla da primeira é criteriosa: a onomatopeia lembra-nos as bofetadas que levámos ao longo dos últimos quatro anos; o símbolo do segundo, pelo contrário, não prima pela exactidão botânica e lembra um tanto o oxímoro, quando confrontado com a realidade: em domínios como a saúde, a segurança social, a educação, a legislação laboral, a fiscalidade – e passo –, o cacto seria bem mais apropriado.
Peça importante do arsenal informativo, o Dr. Luís Marques Mendes não perde uma oportunidade, no seu comentário semanal da SIC, de apelar a uma maioria absoluta, de qualquer daquelas forças políticas, embora seja de suspeitar que o seu coração se incline mais para o tabefe do que para os arranjos florais. Não podendo ser, fundamental é que haja uma maioria absoluta. E tem toda a razão o isento comentador - com PàF ou com rosa, todos podemos sossegar que o país não entrará em aventuras. Continuaremos a pagar, com língua de palmo, a dívida impagável que não contraímos mas nos foi endossada por aqueles que, alternadamente, ocupam o poder.
E, daqui a quatro anos, cá estaremos. Para escolher, democraticamente, quem nos vai assaltar nos quatro anos seguintes.