ENUNCIADO PERFORMATIVO E OMNIPOTÊNCIA DO PENSAMENTO
ENUNCIADO PERFORMATIVO E OMNIPOTÊNCIA DO PENSAMENTO
(Adenda ao post Convenções sociais, bordões linguísticos e mitologias degradadas)
Em linguística, designa-se enunciado performativo aquele que, no acto da elocução, “faz” aquilo que diz. Por exemplo, quando dizemos a alguém «Obrigado!», estamos, de facto, a agradecer (dizer é fazer). Com os votos de «Bom ano» e outros, essa dimensão performativa ocorre também (aliás, também dizemos «faço votos por que…», ou seja, mais do que “dizer”, “faço”), mas suponho que, a esta dimensão performativa, subjaz uma outra, mais profunda e inconsciente, de carácter mágico. O locutor, sem disso se aperceber, crê na omnipotência do seu pensamento, isto é acredita que, com alguma sorte, o seu voto de bom ano tenha o poder de se concretizar.
Mitologia degradada (Eliade), omnipotência do pensamento (Freud), «o papel espantoso, disfuncional e funcional, da irracionalidade na racionalidade (e a inversa)» (Morin). Alguma vez renunciaremos ao mito?!