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Também de esquerda

Espaço destinado a reflexões (geralmente) inspiradas na actualidade e na Literatura.

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Há Lodo no Partido Trabalhista da Noruega

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Vai hoje chegar a meio a série de 12 episódios de Corrida de Fundo, «série norueguesa de 12 episódios que conta a incrível história de Gro Harlem Brundtland, a primeira mulher primeira-ministra da Noruega» (RTP Play), nos anos 70/80 do século passado.

Como se diz nos créditos iniciais, a série é «baseada na verdade, em mentiras e na fraca memória». Não conhecendo a história política da Noruega, não me atrevo a sopesar a parte relativa de cada um destes condimentos, mas inclino-me fortemente a crer que guionista, realizador e produtor quiseram tomar a dianteira, na eventualidade de acusações incómodas. Assumiram, à partida, que aquilo não correspondia necessariamente à dura crueza dos factos. É o que fazem os romancistas, quando dizem que a eventual semelhança das suas personagens e respectivas acções com a realidade é pura coincidência. Às vezes, é; às vezes, não é; às vezes, é e não é, como o gato de Schrödinger. Se um cineasta encenasse um filme em que um deputado, vamos imaginar, de um partido com cinquenta dos duzentos e trinta assentos, num qualquer parlamento europeu, roubava malas em aeroportos, é natural que advertisse os espectadores: – A minha história mantém uma escassa e modesta relação com a realidade. Os espectadores acreditariam, pelo menos até a história vir a público em todos os órgãos de comunicação e a personagem em causa ser fortemente indiciada daquele irrepressível impulso apropriador.

Para mim, a parcela dominante será a da verdade, não só porque me dá jeito, crítico que sou da social-democracia, mas igualmente porque a realidade das sociedades democráticas liberais (infelizmente, não só) é mazinha e não pára de nos mostrar que a realidade é muito mais imaginativa do que a ficção.

Mas não era bem isto o que eu queria dizer. O que eu queria dizer era que esta série me fez recordar o Há Lodo no Cais do Elia Kazan (Sindicato de Ladrões, na versão brasileira, menos eufemística e também menos metafórica). Rodado em 1954, este grande filme põe a nu a realidade dura de organizações mafiosas que, sob a capa do sindicalismo operário, faziam tudo menos defender os legítimos interesses dos trabalhadores. Até o padre que intervém na acção, merece a minha circunspecta admiração, pela honestidade e coragem que revela.

Só falta dizer que, já no início do século XXI, o actual secretário-geral da NATO, o líder trabalhista Stoltenberg, foi primeiro-ministro durante vários anos, alguns deles numa coligação de “centro-esquerda”, “vermelha e verde”. É bom de ver que este vermelho estava muito debotado e o verde não tinha aquele gás característico do Alvarinho. Já o Stoltenberg é um guerreiro de fibra, digno herdeiro dos viquingues de outras eras. Basta lembrarmo-nos da atitude corajosa que teve, quando, sentado ao lado do Trump, este repetiu, alto e bom som, que tencionava anexar a Gronelândia. Enfim, tudo boa gente.

É mais logo, às 22h, na RTP2.

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