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Também de esquerda

Espaço destinado a reflexões (geralmente) inspiradas na actualidade e na Literatura.

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Uma imprensa isenta - Evo Morales é nomeado pela ONU “Herói Mundial da Mãe Terra”

                                                                                                                                                                                     

Há dias, um amigo meu, leitor do Público, como eu, mas também de outros títulos da imprensa dita “de referência”, dizia-me ter tomado conhecimento da nomeação de Evo Morales como “Herói Mundial da Mãe Terra” pela Assembleia Geral das Nações Unidas, não através da referida imprensa, mas sim através do Avante! O acontecimento data de 29 de Agosto p.p. e nem este amigo nem eu próprio tínhamos dele conhecimento.
Admito que algum destes órgãos de comunicação escrita ou qualquer outro – da audiovisual – tenha dado conta da ocorrência. Estávamos no fim de Agosto, tempo de férias, de praia e de pouca atenção à actualidade. Mas, se o fez, só pode ter sido escassamente e sem relevo, à socapa, numa notícia de fundo de página.
Ora este acontecimento não tem nada de irrelevante. Eis o que pude apurar pela consulta do site http://www.processocom.wordpress.com , de que cito alguns passos:
·        Evo Morales recebeu a sua nomeação das próprias mãos do presidente da Assembleia Geral da ONU, o nicaraguense Miguel D’Escoto, sob a forma de uma medalha e de um pergaminho, cujo texto define o primeiro indígena a governar a Bolívia como “o máximo expoente e paradigma de amor à Mãe Terra”.
·        “A ideia de conceder a distinção a Morales, revelou D’Escoto, partiu de uma iniciativa do rei Abdullah da Arábia Saudita. Após escutar um discurso do boliviano em defesa da Mãe Terra, o líder saudita sugeriu convocar uma reunião da Assembleia Geral da ONU para discutir maneiras de resgatar conceitos ancestrais a fim de combater a mudança climática.”
·        “Até hoje, somente dois outros líderes haviam sido designados “heróis mundiais” pela ONU. São eles o ex-presidente cubano Fidel Castro, “Herói Mundial da Solidariedade”, e o falecido ex-presidente da Tanzânia Julius Nyerere, nomeado “Herói Mundial da Justiça Social”.
·        Na cerimónia realizada em La Paz, Miguel D’Escoto disse: “O que queremos fazer é apresentar ao mundo estas três pessoas e dizer que elas encarnam as virtudes e valores dignos de serem copiados por todos”.
·        “O presidente da Assembleia Geral da ONU lembrou que Morales “foi quem mais ajudou as Nações Unidas a declararem o 22 de Abril como Dia Mundial da Mãe Terra”.
Pois bem, numa época em que o debate sobre o aquecimento global – agora baptizado de “alterações climáticas” – é omnipresente nos media e numa ocasião recente em que os líderes mundiais discutiam em Copenhaga as medidas a implementar para as combater, com o insucesso conhecido, nem uma só vez dei por uma referência à nomeação com que Evo Morales foi distinguido.
Por que será? – perguntamo-nos. Não faço a mínima ideia. Mas quer-me parecer que se, em vez de Morales, o nomeado fosse, por exemplo, Obama, Sarkozy, Uribe, ou Netanyahu, toda a imprensa embandeirava em arco.
Já agora – alguém sabia da nomeação de Fidel como Herói Mundial da Solidariedade? E de Julius Nyerere como Herói Mundial da Justiça Social? Eu também não. Decididamente, somos muitos a andar mal informados, maugrado a pletora de informação nesta sociedade da comunicação.
E, por outro lado, por que será que os nomeados são estes e não os outros que referi atrás?
Tantas perguntas, com, talvez, duas respostas possíveis. Uma é a que D’Escoto nos dá: “ [estes homens] encarnam as virtudes e valores dignos de serem copiados por todos”.
Claro que é sempre possível dar a outra resposta: a Assembleia Geral é maioritariamente composta por pequenos países do mundo subdesenvolvido, pelo que as suas deliberações são pouco fiáveis.
Escolham – que eu já escolhi há muito e não vejo motivos para mudar de ideias.
Foto de Alain Bachellier, in http://www.flickr.com/photos/alainbachellier/146124152/