Perplexidades
- Que a Relação, pronunciando-se sobre a utilização da expressão gang, considerou que a palavra era insultuosa e indelicada”, mas estava “justificada em factos”;
- Que “os factos remontam a 2000, quando Rodrigues foi constituído arguido num processo sobre crimes de associação criminosa, infidelidade, burla qualificada e falsificação de documentos”;
- Que “o processo relativo a Rodrigues foi arquivado, mas
- Que “no despacho do Ministério Público podia ler-se que, apesar das ‘dúvidas’ sobre a sua contribuição “nas actividades subsequentes à burla levadas a cabo pelos principais arguidos”, o advogado [R. Rodrigues] alegou ”desconhecimento da actividade delituosa”;
- Que “esta decisão foi lida com “perplexidade” pelo juiz de primeira instância. Isto porque o MP dissera que Rodrigues “foi referenciado como tendo mantido contactos (…) com a arguida, principalmente em reuniões que foram organizadas tendo em vista dar aplicação a quantias ilicitamente apropriadas (…);
- Que “fez deslocações a fim de tratar de assuntos relacionados com as actividades da arguida, as quais eram tudo menos transparentes (…) obviamente pagas com dinheiro obtido de actividades que eram tudo menos lícitas”;
- Que “o juiz de instrução concluiu que a acusação de que Rodrigues se envolvera “com um gang internacional” tinha sustentação, o que, a final, conduziu à corroboração da sentença da primeira instância pela Relação – sentença com a qual Rodrigues se diz agora “conformado”.
Ora o que eu – leigo em matéria jurídica, mas cidadão atento ao processo político – retenho de tudo isto é que o deputado Ricardo Rodrigues, vice-presidente da bancada parlamentar do Partido Socialista, de que é frequente porta-voz, colaborou activamente com gente da pior espécie – chamemos-lhes gangsters ou, mais portuguesmente, vigaristas, malandrins, burlões, patifes, gatunos. E isso leva-me a estranhar, conforme terá sucedido a EGC, que se mantenha na política activa, em lugar de tal destaque e com uma animosidade tão acentuada para com os adversários políticos que Sócrates até lhe elogiou a “combatividade” no jantar de Natal do grupo parlamentar do PS (Público, 23/12). Não sei se será caso para dizermos asinus asinum fricat, trocando obviamente a espécie animal. Mas é seguramente caso para nos inquietarmos e desconfiarmos cada vez mais da rectidão dos representantes do poder.