"Verónica" - xaropada intragável
Pois é. Íamos ver o “The Post”, mas havia um problema qualquer com o filme, que impedia a projecção. «Vá ver o "Verónica" ‒ é de terror, mas é curto.» Na sala ao lado ia o “Cinquenta Sombras”, mas o senhor deve ter achado que já não temos idade para essas coisas. Lá fomos. Uma jovenzita, aluna de colégio de freiras, a braços com um problema de amenorreia e dada a leituras de obscurantismo (associação explosiva de circunstâncias banais), abre inadvertidamente a porta de acesso ao mundo dos vivos a uma coisa que é designada por “espírito” e “por fantasma” e que no fim se presume ser apenas certa forma de neurose histérica a carecer de urgente psicanálise. A história é sobejamente enfadonha e deixaria qualquer ser pensante a dormir em pé não fosse a estridência dos efeitos sonoros que acompanham o surgimento do dito “espírito” ou das suas manifestações, e que, talvez mais do que as imagens, é de arrepiar ‒ e de levar qualquer um a temer pela salvaguarda dos pobres tímpanos. Comparado com isto, os filmes que mostram cenas da vida post mortem, num paraíso estilo berço de bebé, com almas dotadas de corpo, envergando imaculadas túnicas alvas, não ficam nada atrás em patetice, mas têm a inestimável vantagem de um fundo sonoro mavioso, isento de vibrações estapafúrdias, propriamente celestial.
Sai-se da sala com a impressão de se ter passado uma hora e tal com alguém que esteve a gozar connosco, isto é, a tomar-nos por adultos com idade mental abaixo dos oito anos. Parece, contudo, que a coisa aconteceu mesmo, há uns vinte e tal anos, em Madrid, e que a jovenzinha acabou por morrer, o que concita o nosso pesar. De duas coisas estamos certos: a pobre não corre o risco de se encontrar com o “espírito” que a perseguiu em vida e o realizador merece ir para o Inferno.